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Do Lar

Ani e Iná
Publicado em 08/07/2021 às 19:16Atualizado em 19/12/2022 às 03:06
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Futurólogos nos alertam para as mudanças da vida humana no planeta. O beat cada vez mais acelerado. Noite dessas, num debate na TV, um futurólogo disse que em 2050 o mundo será outro, totalmente robotizado. Mas nem precisamos ir tão longe. Daqui a dois anos mesmo, o patamar já será diferente. Sabemos que a preocupação climática é um alerta, mas a ameaça muito mais plausível serão os robôs, que logo estarão emergindo.

Como diz Lulu Santos: “Tudo passa, tudo passará”. E completamos: tudo muda, tudo mudará. A literatura é prova diss palavras caem de moda. Ninguém mais fala pindaíba, lambisgoia, vitrola, disco, balzaquiana; expressões como o fio do pavio, amarrar o burro, será o Benedito?; gírias como barra limpa, brotinho, tremendão, chá de cadeira, calhambeque, carango, morou?, papo firme. Na Jovem Guarda, em seu programa de TV, Roberto Carlos usava o bordã “É uma brasa, mora?”.

Algumas dessas palavras e expressões já estão definitivamente aposentadas depois de terem sido amplamente utilizadas e compreendidas. Hoje, os internautas entendem muito bem uma nova linguagem, tais com stalkear (espionar), MDS (abreviação de “Meu Deus”), tankar (segurar risada), 10/10 (pessoa muito bonita), 1/10 (não é bonita), deu ruim (saiu do planejado), yag (gay), biscoiteiro (que faz elogios), crush (paixão platônica).

Faz um bom tempo que mulheres, quando preenchiam fichas para matricular seus filhos, na profissão escreviam: do lar ou dona de casa. Era aquela mãe que ficava em casa em tempo integral, cozinhava, lavava, tomava conta do marido e dos filhos, fazia bolos, assava biscoitos e à noite ainda costurava. Hoje, ela não é mais a mesma. Prefere ser chamada de “mãe em tempo integral”. Já ouvimos muitas dizerem: “O que me ofende não é que digam que eu sou do lar, mas que pensem que eu não faço nada”.

O senso comum diz que a pessoa que não colabora financeiramente não tem valor, o que desvaloriza o serviço da matriarca. Intelectualmente, nem se fala! Cuidar dos afazeres sem contato, nem pensar!

Muitas encaram que a expressão é uma desvalorização da mulher: ela é dona de casa.

“O homem é o dono da rua!”

“O trabalho no lar é um trabalho invisível e não é reconhecido!”

A expressão “do lar” está entre as que serão extintas? Sabemos muito bem que toda mulher, mesmo a que trabalha fora, exerce também a função de dona de casa, com dupla jornada de trabalho. A “do lar”, que saía apenas para levar os filhos para a escola, cujo marido era o provedor de todas as despesas, está desaparecendo.

Vivemos tomadas por apegos ao mesmo tempo que desejamos explorar fronteiras. Existimos sobre asas e raízes. A convocação do mundo é sempre para fora de casa, para as necessidades do outro, ou com o que o universo vai dizendo que a gente precisa.

Às vezes, programamos uma viagem em família, todos juntos. É uma experiência rica, mas é preciso entender que cada um enxerga o trajeto de uma maneira própria. Assim somos nós, mulheres; queremos fazer o caminho com mais leveza e amor próprio.

Cora Coralina só conseguiu publicar seu primeiro livro quando tinha 75 anos e tornou-se uma das vozes femininas mais relevantes da literatura nacional. Foi convidada para participar da Semana da Arte Moderna, mas foi impedida pelo marido. Era do

Muitas mulheres bem-sucedidas se veem tentadas a dar tempo na vida profissional para cuidar da família. De que os filhos merecem atenção, elas não têm dúvida. A questão é angustiante e se há caminho de volta ao mercado de trabalho. As pesquisas mostram que, depois de certo tempo, as profissionais que abrem mão da carreira se sentem frustradas com sua decisão e retornam em busca de sua realização pessoal.

Precisamos lembrar que ainda somos pioneiras. Façamos uma jornada flexível. Somos pragmáticas: arrumamos um jeito de a família dar certo. 

“Do lar!” Uma profissão que soa como a antiga gíria: “É uma brasa, mora?”.

Dois beijos...

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