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Outro assunto

Ani e Iná
Publicado em 23/03/2021 às 20:21Atualizado em 19/12/2022 às 04:26
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Entender o espaço e o tempo em que estamos é precioso. Mas ouvir a voz que vem de dentro e escolher o diálogo com nós mesmos em vez da solidão é mudar o rumo da conversa.

Contexto é a palavra da moda. E a palavra “da moda” está fora de moda. Hoje cada um faz o que quer, quebraram-se os “tabus” e o preconceito se tornou um palavrão. Força no estilo! Cada qual tem o seu! Mas é outro o assunto.

Ainda bem que existem as doces vozes que ouvimos da memória, em que menos é mais! E elas nos transportam para lugares prazerosos. Na memória fotográfica, visualizamos nosso pai, João Luiz de Sousa, arrumando suas “tralhas” para uma pescaria com os amigos – nos enche de significados. Pescaria também é cultura! Pescar é uma prática tão antiga quanto a própria humanidade, e o pescador é muito organizado. Os anzóis, cada um de um tamanho, nos seus devidos lugares, feitos de cobre, alguns de aço. As linhas, produzidas com ligas metálicas, plásticos ou nylon. As varas eram leves e resistentes e não se deformavam ao envergar. Carretilhas lentas e rápidas. Papai nos explicava cada detalhe dos equipamentos... Amorável!... Até um banquinho de ferro que dobrava entrava naquele saco de lona. Uma pescaria onde reuniam letrados, como Lúcio Mendonça, Rubens, Quinzinho, Mário Palmério, todos compareciam e “curtiam”. Alguns até ficavam como índios e almoçavam aquela “gororoba” no prazer de um grande banquete, sentados em uma pedra, com um só objetiv o prazer de pescar ou simplesmente estar fora da cidade, à beira de um rio.

A casa de nossos avós é a nossa melhor saudade!  A vovó era amorosa, doce, e sempre que íamos visitá-la segurava nossas mãozinhas e nos levava ao fundo do quintal para nos mostrar as “plantinhas” todas floridas, plantadas em latinhas penduradas nas árvores, e falava o nome de cada uma delas. Vovó Cornélia tinha uma paciência de dar inveja, nunca ficava brava conosco. Depois nos levava para a cozinha e ia fazer aquele leite docinho que só ela sabia fazer, servido em caneca de alumínio. Mais tarde, fomos saber que se tratava de um leite caramelizado. Gostinho de infância. Depois, sentávamos no sofá e ela nos deixava soltar suas tranças, pentear seus cabelos e trançá-los novamente... e colocava um pente em cada lado do penteado. Como era linda e chique! Todas estas lembranças de um tempo que nunca foi embora. É que nossos avós não morrem, eles ficam na nossa saudade. 

Hoje, as vovós são totalmente diferentes entre si, mas têm uma coisa em comum: são divertidas, irreverentes, icônicas, gostam de comprar roupas para os netos, fazem cremes e, na maioria das vezes, fazem um Nesquik sabor morango, compram Toddynho, Danoninho, Bis, jogam no iPhone com os netos, além de levá-los para os clubes, parques, cinema. Ou assistem a um filme em casa, comendo pipoca. “Uma paciência de dar inveja, nunca ficam bravas com os netos” – nada desigual do tempo de nossas avós.

O mundo mudou, as vovós não são mais as mesmas, mas toda essa imensidão sagrada louvada pelos poetas existe em um mundo que os olhos não conseguem ver, uma conexão entre o visível e o invisível. Esse é o ponto, o instante raro e inesperado que só nós podemos sentir. Mas, para a nossa sorte, imortalizado em flashes, uma genuína coleção de memórias. Quando nossa alma consegue captar o exato instante em que o movimento se faz permanente, é como uma foto que se bate e ... eterniza-se. 

Mudando de assunto... A felicidade, esse sentimento que parece tão complexo e inatingível, pode estar o tempo todo bem pertinho da gente. Na memória! Da próxima vez que passar por lá, vivencie sem pressa, não deixe de aproveitar. Entregue-se. E retorne melhor da viagem.

Dois beijos...

Ani e Iná:

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