ARTICULISTAS

Tempo de cara nova

Ani e Iná
Publicado em 01/09/2020 às 07:00Atualizado em 18/12/2022 às 09:07
Compartilhar

Tempo... tempo... tempo... 

Neste tempo de pandemia, tempo é o que mais temos. 

Ninguém entrou, ninguém saiu.  Eventos cancelados, amigas separadas, viagens nem pensar!

Nosso endereço são os livros, a TV, o rádio, mas o carro-chefe do novo tempo se chama universo digital, que alterou os costumes e trouxe mudanças em nossa constituição psíquica e as horas na Internet, em que é preciso ser rápido, desenfreado, competitivo e solitário. Esses resultados demonstram um círculo vicioso preocupante entre a solidão e a dependência. O mundo online dita mais do que nunca uma nova maneira de viver em sociedade: divertir sem sair de casa. O iPhone, nosso maior companheiro. Poucos não aderiram a esta arma tão poderosa.

Sempre dividimos o tempo em três períodos iguais: oito horas para dormir, oito horas para ganhar a vida, oito horas para a vida mecânica. Vida mecânica significa:  comer, beber, tomar banho, vestir, passear, namorar.

Podemos dividir o tempo em quatro períodos: seis horas para dormir, seis horas para ganhar a vida, seis horas para a vida mecânica, e sobraram seis horas para a evolução pessoal.

A capacidade de metamorfose é essencial para a sobrevivência no isolamento.  Para muitos de nós, esses momentos são um tempo para nós mesmos nos adaptarmos e para o controle de viver no ócio. 

Em um documentário sobre a vida do escritor português José Saramago, perguntaram: "Saramago, você conquistou tudo, prêmio Nobel de Literatura, prêmio Camões, prêmio São Paulo Literatura, fama, o que quer ter mais? " A resposta veio rápida: "Tempo e vida". 

Tempo... tempo... tempo... 

Todos os dias brigamos com o nosso positivo e o nosso negativo. 

Devemos ter uma visão mais positiva da vida. Se a vida nos oferece um limão, façamos uma limonada ou, no nosso caso, uma caipirinha. Mas se a vida nos oferece uma pandemia, o que fazer?  

Não devemos nos levar tão a sério, mas relaxar, brincar, quando tudo parece muito tenso. Parece? Brincar com a morte?

Quando a tristeza parecer infinita, não podemos perder o foco da realidade e das pessoas que estão a nossa volta. Onde estão as pessoas? No digital? 

Um bom senso de humor alivia as tragédias, consola as decepções e protege o coração para que ele fique saudável, sem rancor. Mas o coração aguenta tanta ansiedade? 

Tempo... tempo... tempo...

Tempo bom quando preparávamos nossas malas para viajar para Araguari, na "Maria Fumaça”. Que tempo feliz!  Vestíamos a melhor roupa – idênticas – e lá íamos com a família em um "carro de praça", para a estação ferroviária. Quando embarcávamos, ouvíamos o apito, em seguida as portas se fechavam e o trem de ferro começava a andar. Parando de estação em estação, entrando e saindo e recolhendo passageiros. Com todo o seu tempo... Viagem longa... Tempo bonito! 

Papai fazia questão de almoçarmos no restaurante da locomotiva. Todos os garçons uniformizados. Tempo para comer... Tempo para ver as árvores passando, as paisagens, os campos... Nossos sonhos, nossas fantasias ressoando no saracotear dos vagões... Imagens tão fortes que ainda sentimos o cheiro da "Maria Fumaça”.

Tempo... tempo... tempo...  

Dois beijos...

Ani e Iná

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por