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Razões para não entrar em pânico

Bem que diziam que esse Joesley não era confiável. Humor negro à parte, o Brasil continua...

Geraldo Samor
Publicado em 19/05/2017 às 19:58Atualizado em 16/12/2022 às 13:15
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Bem que diziam que esse Joesley não era confiável.

Humor negro à parte, o Brasil continua não sendo para principiantes. É preciso ter estômago, resiliência e imaginação para lidar com os esquerdistas embusteiros e os pragmáticos argentários. Onde é que essa gente enfia tanto dinheiro? Se trabalhassem um décimo do que roubam, esse País seria mesmo uma potência.

Mas tudo que está errado com o Brasil pode ser consertado pelo que está certo.

Se temos que aceitar que nossa classe política (e os maiores partidos do Congresso) são essencialmente um sindicato de vagabundos, por outro lado cabe apreciar que, no combate à corrupção sistêmica, nossas instituições não estão deixando pedra sobre pedra, nem varrendo nada para debaixo do tapete.

Ainda assim, nem apenas de desconstrução vive um País. Uma República precisa de propostas, melhoria contínua, devoção.

Por enquanto, a Lava-Jato está removendo a erva daninha, mas caberá ao brasileiro saber plantar a nova safra — sem emoção, e sem empenhar seu voto ao primeiro clichê fácil que aparecer.

Quando a bomba nuclear caiu ontem à noite, numa explosão ouvida do Planalto Central aos prédios mais metidos da Faria Lima, detonaram-se biografias que, num grau ou outro, já se sabiam comprometidas. Michel Temer, o jurista sempre cauteloso com as palavras, deixou-se trair pelas mesmas. Foi transformado de líder da "Ponte para o Futuro" em protagonista de "Meu Passado Me Condena", de oráculo da travessia pós-petismo em patrocinador da obstrução de Justiça e facilitador de corrupção passiva. Aécio Neves foi promovido de "tem algo estranho, mas não sei bem o que é..." a ex-político que "tinha um futuro brilhante" (sem maldade).

Um Presidente que assumiu prometendo zelar pela liturgia do cargo foi flagrado negociando sua "previdência" de R$50 milhões no subsolo do Palácio do Planalto, negociando com um empresário implicado em inúmeras operações policiais. E deu sua bênção a uma "mesada" pra silenciar o político identificado pela população como o mais corrupto do país.

Temer fará o cálculo político que é sua segunda pele. Se achar que pode sobreviver à hecatombe, dará explicações, lutará por uma sobrevida. Faria mal ao País. As evidências parecem por demais avassaladoras para que o Presidente mantenha um mínimo de legitimidade, e o Brasil já está cansado de surpresas — pelo menos, as deste tipo.

Às 19h30 de quarta-feira, "Fora Temer" deixou de ser o slogan da esquerda sem assunto para se transformar numa proposição razoável, que atende aos interesses do País, desde que Brasília não invente casuísmos e se atenha ao texto constitucional.

Chegamos, por fim, ao que realmente interessa nessa novela de quinta categoria: as reformas. Muita gente dirá que a agenda de reformas foi para o brejo com a biografia de Temer. Este site discorda. Com ou sem Temer, a história recente brasileira já demonstrou que, nas crises, as reformas tendem a se transformar em antídoto contra a turbulência, em vez de suas vítimas.

É nas crises que as reformas mais se justificam e que seu valor resta mais explicitado. O País tem a sorte de ter um Ministro da Fazenda perfeitamente apto a ser o fiador deste processo, um Banco Central independente (para todos os efeitos), uma equipe econômica séria e dedicada, além de diagnóstico e prognóstico prontos para execução.

Se Temer de fato renunciar, o cargo passa interinamente a Rodrigo Maia, que, como presidente do Congresso, deve convocar uma eleição indireta em até 90 dias. Qualquer brasileiro poderá se candidatar, e, por mais que às vezes tenhamos a impressão de que "não sobra ninguém", este site consegue pensar em muita gente que honraria o cargo. A presidente do Supremo Tribunal Federal, por exemplo.

O WhatsApp está bombando com os profetas do apocalipse, mas, acredite: o Brasil não vai acabar. Nesta quinta, o mercado vai refletir a indecência dos nossos políticos e a suposta falta de visibilidade para o País — e vai projetar isso na perpetuidade. Mas, depois do espasmo, o preço dos ativos voltará a refletir um País com demandas reprimidas, um número enorme de empresas eficientes, e, não sei se mencionei, um País cada vez mais próximo do império da lei. Não conheço um empresário que venderá uma ação de sua companhia amanhã por causa disso.

Ademais, há visibilidade: o rito de substituição está escrito na Constituição. No Brasil, a imprensa é livre, o Supremo julga, os procuradores processam e a polícia prende.

Só falta, realmente, colocarmos o País à frente de TODAS as agendas pessoais.

(*) Artigo publicado no site do Brazil Journal

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