À menor crítica aos malfeitos dos governos do PT escutávamos como resposta: E o FHC? E o Aécio? Eu cansei de ouvir isso. Pois bem, o tempo passou na janela, a roda girou, e hoje muitos daqueles que criticavam adotam respostas semelhantes diante de acusações a práticas do governo Bolsonaro. A cantiga se repete: E o Lula? E o PT?
É impressionante o que o sujeito não faz para defender seu político de estimação. Com desfaçatez ímpar, relativiza a corrupção, graduando-a de acordo com sua conveniência política. O que importa uma rachadinha diante de um petrolão? Qual a relevância comparada ao mensalão, do gasto de três bilhões em plena pandemia, para comprar os votos de deputados naquele que é simpático ao Planalto? O famoso “rouba mas faz” foi substituído pelo “rouba, mas que seja menos do que o antecessor”. Que alento! O erro virou parâmetro moral. Gastos exorbitantes do governo, injustificáveis sob todos os aspectos, são amenizados porque algum outro governante no passado, gastou mais. Tudo se compara. Tudo se relativiza. A desculpa da comparação funciona como um bálsamo para políticos inescrupulosos e incapazes de elevar o nível do exercício da função pública.
Até os palavrões proferidos pelo Presidente da República são escusáveis, conforme vi em postagens em mídias sociais, porque afinal, segundo elas, o Brasil é o país do funk, das favelas, das bocas sujas. Assustador. Tudo é permitido, se convém ao queridinho da vez. E mesmo quando os gastos com cartões corporativos são atualmente muito superiores aos dos presidentes do passado, as justificativas pipocam cambetas, tendenciosas e não convincentes. São considerados irrelevantes, face ao todo.
Minha régua moral não é essa. Uma pessoa honesta pode ser colocada à prova que não furtará nem um pão, nem um tostão e muito menos um milhão.
Diante dessa tendência, o jeito é desistir de corrigir o Brasil antes de ouvirmos a pergunta: e o Pedro Álvares Cabral? Se estudarmos bem a história, vamos acabar descobrindo algumas negociações suspeitas dele com os índios que habitavam essas terras. Pobre país o nosso, que, ao invés de corrigir, compara; ao invés de punir, desculpa, e no lugar de apurar, prefere desqualificar os acusadores e aparelhar as instituições para parecer aos olhos da torcida ideológica que vivemos às mil maravilhas.