No excelente livro de crônicas de Leandro Karnal, intitulado “O coração das coisas”, vários assuntos são abordados com conhecimento e facilidade de expressão. Cada um dos temas traz histórias, informações e opinião com um toque de leveza e até de humor. Como experiente professor, historiador, palestrante e autor de vários livros, Karnal prende nossa atenção e tem muito a nos ensinar. Fiquei, pois, surpresa quando até ele, um erudito, se queixou no artigo “Os novos leitores” de que se o argumento principal estiver a partir do terceiro parágrafo não chegará a muitos. O sábio beneditino que levava meses copiando e ilustrando um delicado manuscrito no passado foi substituído pelo leitor polarizado, focado em manchetes, com déficit de atenção e que formula insultos antes mesmo de compreender o que leu, escreveu ele. “Nunca tantos seres humanos tiveram a capacidade de ler. Nunca tantos leitores tiveram crescente dificuldade com a interpretação do lido”.
É óbvio que quanto menos se lê mais dificuldade se tem para compreender um texto. Acostumado às mídias sociais e sua economia de palavras, o novo leitor se torna impaciente e mal começa a ler, já vai para o final, prática que fará dele um ser vazio de conteúdo para discutir e entender o mundo e seus semelhantes. A solução passa necessariamente pelo livro e o incentivo à leitura.
Alheio, porém, à essa constatação o governo enviou ao Congresso um projeto de reforma tributária que fará com que o livro perca a isenção do recolhimento de contribuição, onerando o seu custo em até 20%, já que o tributo será de 12%. O setor de livros - tanto o produto em si quanto o papel utilizado para sua impressão - tem imunidade do pagamento de impostos garantida pela Constituição Federal. Porém as contribuições, que são tributos com destinação específica, ficam de fora. Até hoje a alíquota dessas contribuições é zero. Lastimável essa inciativa governamental tão na contramão de nossas necessidades atuais. O livro precisa de incentivo e não de punição.
Marcia Moreno Campos
Uberaba, 27 de agosto de 2020
