ARTICULISTAS

A missão de curar

Márcia Moreno Campos
Publicado em 19/05/2020 às 07:00Atualizado em 18/12/2022 às 06:24
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Acabo de ler o livro “Medicina dos horrores”, da escritora Lindsey Fitzharris, que trata da medicina, em particular das cirurgias, no século XIX. Até meados desse século as cirurgias eram repletas de sangue, dor e podridão. O éter foi usado pela primeira vez como anestésico em 1846 e antes disso as cirurgias, incluindo amputações de membros do corpo humano, eram feitas na marra, com o paciente contido por fortes auxiliares do cirurgião, que o imobilizavam, mas não amenizavam a dor. Para evitar maior sofrimento, os procedimentos eram realizados em velocidade máxima – os mais célebres cirurgiões da época amputavam uma perna em menos de trinta segundos. Porém, mesmo quando elas eram bem-sucedidas, não se podia dizer o mesmo da recuperação do paciente. Sem luvas e sem o menor cuidado com a higiene básica, as infecções pós-operatórias ceifavam vidas e mais vidas. Ninguém sabia exatamente como eram transmitidas as doenças infecciosas. Era mais fácil sobreviver a uma guerra do que a uma internação hospitalar. E foi nesse cenário que se destacou um jovem médico chamado Joseph Lister, que mudou o curso da história ao adotar o ácido carbólico como desinfetante, além de medidas de higiene e arejamento do ambiente hospitalar. Apesar de enfrentar inúmeras resistências, ele se manteve firme, e salvou vidas.

Pois não é que em pleno século XXI, no ano bissexto de 2020, a medicina é mais uma vez desafiada por uma pandemia de um vírus altamente contagioso que está modificando hábitos e comportamentos em todo o mundo. Novamente, o médico é chamado a enfrentar esse gigantesco desafio. E eles, os profissionais da saúde, o fazem com abnegação, competência e esforço, que quase nunca são reconhecidos em condições normais e menos adversas. Cientistas se debruçam sobre pesquisas que buscam a cura e a vacina para conter tão terrível mal. Enfermeiros e enfermeiras, técnicos e auxiliares arriscam suas vidas na missão de cuidar de doentes infectados. Profissionais da limpeza desinfetam ambientes hospitalares, motoristas de ambulância dão celeridade aos atendimentos, e os médicos viram noites curando e salvando pessoas. É um verdadeiro séquito do bem.

Contra eles, os palpiteiros de sempre, leigos, políticos e interesseiros, e a falta de recursos para que desenvolvam seu dignificante trabalho. A ausência de verbas destinadas a pesquisas e hospitais públicos se faz notar, visto que elas se perdem no caminho, desviando-se para fundos partidários e eleitorais, mordomias, salários altíssimos, cartões corporativos, excesso de assessores, gordura em todos os Poderes. Mesmo assim, lá estão eles, nossos heróis, a quem deixo minha eterna gratidão.

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