ARTICULISTAS

Loucos, bêbados e abandonados

Na fila do supermercado a senhora baixinha, magrinha, de cabelos curtos e brancos, desabafa...

Danilo Lima
Publicado em 26/10/2016 às 20:12Atualizado em 16/12/2022 às 16:52
Compartilhar

Na fila do supermercado a senhora baixinha, magrinha, de cabelos curtos e brancos, desabafa com a amiga um desagradável “encontro” na saída do mesmo supermercado na última semana. Enquanto passa seus produtos pelo caixa, a senhora relata que quando colocava as compras dentro do carro o “Bin Laden” apareceu e começou a fazer perguntas desconexas, sobre coisas inexistentes, a chamou de “idiota” e, simplesmente, foi embora.

Uma das vezes em que ele me chamou mais atenção foi no dia que o rei do futebol esteve no parque Fernando Costa. Enquanto Pelé não chegava, quem “reinava” na atenção dos frequentadores era um personagem local “Bin Laden”, um senhorzinho de uns 65 anos, “mirrado”, barba estilo “jihadista árabe”,  gorro na cabeça e sua “indefectível” camisa do flamengo década de 80.

Tradicionalmente as escolas da cidade promovem passeios dos alunos na exposição. Eu mesmo quando criança e estudante do Castelo Branco fui a muitos. No dia da chegada do Rei não foi diferente. A criançada tomava as alamedas do parque. De repente, um pequeno tumulto, no meio dele um cara em cima de um tamborete usava barba e vestimentas que lembravam o terrorista “Bin Laden”. Do pré-1 até o 7º ano, todos pararam para olhar a “suposta” performance.  Ao passo que a plateia elevou seus primeiros celulares, o “jihadista das sete colinas” se enfureceu e saiu apressado falando “cobras e lagartos” e vacas também, para todos da “plateia”. As crianças e eu fomos então “tietar” o Pelé, que estava bem mais agradável naquela tarde.

Outro dia que me recordo foi na rotatória da Fidélis Reis. Desta vez, além da camisa rubro-negra suja ele empurrava um carrinho de supermercado enferrujado. Na hora do trânsito pesado, é constantemente alvo de muitas piadinhas dos motoristas e transeuntes, principalmente sobre a situação atual do time carioca. Se você lembrá-lo que o Vasco venceu os últimos clássicos, a senhora sua mãe, com certeza, será homenageada. De repente, levanta, e sai falando “coisas” avenida abaixo, empurrando seu carrinho de velharias e devaneios.

Os personagens de rua fazem parte do dia a dia de toda cidade e de certa forma enriquecem o imaginário popular com suas histórias e comportamento peculiar. Quem nunca ouviu falar do andarilho de São Bento, que na década de 60 elegeu a cidade como ponto de parada para suas viagens que tinham como trajeto “Uberaba – Ribeirão Preto – Uberaba – Uberlândia – Araguari” e vice-versa, todo a pé. O viajante solitário chamou tanta atenção que teve sua história contada no livro “O Andarilho - Quem é ele?”, de João Eurípedes Sabino. Uma estátua em sua homenagem foi inaugurada em 2006, na Praça Jorge Frange.

Tirando a parte “folclórica”, a vida destas pessoas muitas vezes se resume em mais uma esquina, drogas, um copo de pinga e várias doses de uma certa demência também. Na região da rodoviária, o número de moradores de rua impressiona e preocupa todos que por ali passam. A piada que corre é que em muitas horas a estação comporta mais moradores de rua do que passageiros. Quem mora próximo ao Mercado Municipal, não tem mais sossego.

Deveríamos cuidar melhor de nossas ruas e de seus moradores, uma cidade que possui muitos indigentes e não os assiste de forma minimamente adequada “caminha” contra o senso de humanidade e respeito pelo próximo. Certa vez vi uma pichação que me fez refletir. A tinta preta no fundo branco dizia: “Na pessoa de cada mendigo há um pouco da culpa de todos nós.”

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por