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Diário de Motociclista

Desde sua invenção, por volta do ano 1869, até os dias atuais, a motocicleta ganha...

Danilo Lima
Publicado em 20/09/2016 às 22:35Atualizado em 16/12/2022 às 17:17
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Desde sua invenção, por volta do ano 1869, até os dias atuais, a motocicleta ganha a cada dia mais amantes, estima-se que somente no Brasil mais de 20 milhões delas trafeguem diariamente por ruas e avenidas. As “envenenadas” estão por todas as partes, desde um mundial de motovelocidade até o mundo das artes. No cinema dividiram o protagonismo com atores do calibre de Marlon Brando, em “O Selvagem” (1953), filme que conta a história do líder de uma gangue de motociclistas. A estrela de duas rodas era uma Triumph Thunderbird 6T, a moto e o filme tornaram-se clássicos.

Motociclo, motocicleta, moto, motoca, ou até mota, chame como queira, é personagem não só de filmes hollywoodianos, mas também de sonhos de muitos mundo afora. Mas o roteiro da vida cotidiana brasileira, que tem como cenário um trânsito digno de script de terror, nem sempre termina de forma feliz. Muitos que experimentaram acelerar suas máquinas estão acamados ou entraram para as brutais estatísticas de mortes no trânsito.

No fim do ano passado, uma pessoa muito querida despediu-se na porta de casa, acelerou sua moto e cerca de meia hora depois, quando ia para o trabalho, seu peito e de seu amigo serviram de para-choque em um acidente que envolveu um ônibus coletivo numa das principais avenidas da cidade, o acidente fora fatal para ambos.

O sociólogo e engenheiro Eduardo Alcântara Vasconcellos, especialista na análise de dados sobre o trânsito nas cidades, lançou recentemente o livro intitulado "Risco no trânsito, omissão e calamidade" (ed. Annablume), a obra traça um perfil dos acidentes que envolvem especificamente motos no Brasil. Em entrevista recente à Folha de S.Paulo (jornal de circulação nacional), Vasconcelos trouxe dados assustadores sobre este tema.

Um destes dados se refere aos números totais de mortes, segundo ele, no Brasil, 220 mil pessoas morreram quando utilizavam estes veículos em sua locomoção. Diante deste elevado número, o sociólogo faz uma comparação não menos aterradora, somente a escravidão, que durou mais de 300 anos, e que, segundo pesquisas, vitimou mais de 640 mil negros, matou mais no país em toda a nossa história.

Alguns motociclistas escapam da morte, mas não da também, não menos trágica, invalidez permanente. Quase 1,6 milhão de acidentes resultaram em algum tipo de lesão grave para suas vítimas, as impossibilitando de retomar minimamente sua rotina de vida. De acordo com sua pesquisa, somente no ano 2015, 74% dos pedidos de indenização por morte ou invalidez no trânsito paulista foram causados por motos, que representam apenas 19% da frota de veículos em todo o Estado.

Ao expor toda a gravidade que este conjunto de dados representa, o sociólogo Eduardo Alcântara Vasconcellos joga luz em um tema que a nossa sociedade ainda não refletiu com a necessária atenção. Até quando nossos políticos que incentivaram a compra destes veículos, com a redução de impostos, taxas zero (como na Zona Franca de Manaus, o que fez com que as vendas alcançassem “velocidades recordes"), não trarão à mesa de debate medidas e leis que verdadeiramente acarretem num trânsito mais civilizado, humanizado, que garanta que namorados, filhos, pais e mães de famílias, trabalhadores, retornem às suas residências, com suas motos e principalmente suas vidas, sãos e salvos?

Destas tragédias sobram muitas tristezas, revolta e inconformidade, suas vítimas não entram apenas para as já comuns estatísticas de morte envolvendo motos, mas também para as de “saudades”, para familiares e amigos que aqui ficam.

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