ARTICULISTAS

Sociedade, Famílias e Drogas

Na honrosa, porém humilde condição de ex-diretor de um conselho municipal antidrogas

Gustavo Hoffay
Publicado em 26/11/2019 às 22:17Atualizado em 18/12/2022 às 02:17
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Na honrosa, porém humilde condição de ex-diretor de um conselho municipal antidrogas, diretor secretário e presidente do Conselho Curador de uma afamada instituição que cuida da reabilitação de drogados e por três vezes laureado por câmaras legislativas no Brasil e nos Estados Unidos pelo trabalho que realizo naquela seara, além de ter concluído diversos cursos relacionados à dependência química e promovidos pela Secretaria Nacional Antidrogas, venho a público aplaudir, porém discordar de manifestações populares que, invariavelmente, colocam as drogas como as principais vilãs de todos os males decorrentes a partir do seu uso e abuso, como a prática de atos criminosos, além do surgimento de conflituosas relações sociais e interfamiliares. Ora, francamente! Da mesma forma que um animal feroz ou uma cobra peçonhenta, também aquelas substâncias químicas alteradoras do humor somente irão prejudicar a quem delas se aproximar e passar, com o tempo, a ter uma relação mais direta com as mesmas. Vou mais além: drogas, quaisquer que sejam elas, são absolutamente inofensivas enquanto não inaladas, fumadas ou injetadas por alguém. Aliás, isso se trata de algo tão óbvio quanto dizer que o fogo só queima quem nele toca ou se aproxima. Se por um lado algumas pessoas fazem uso regular de pequenas quantidades de drogas, inclusive o álcool, sem, entretanto, delas sentirem-se dependentes, há que se realçar que esses usuários não têm uma predisposição mórbida (muitas vezes de origem genética) a desenvolver uma dependência em relação às mesmas, ao ponto de não perderem a perda de controle do uso daquelas substâncias. Então, por que ao contrário de criminalizar e “sacrificar” aquelas substâncias, não dirigir o foco da culpabilidade pelas doenças e atos decorrentes do seu uso abusivo e dependente para famílias desestruturadas e também para uma sociedade cuja maioria dos seus componentes é apática em relação a prevenção, absorta quanto aos perigos decorrentes do uso de drogas e muitas vezes cúmplice de atos criminosos a elas relacionados? Talvez a liberação oficial do uso de drogas venha, teoricamente, despertar no público em geral uma maior atenção quanto à valorização da vida e também a uma convivência ainda mais saudável em família e sociedade. Ao contrário de comemorarmos um dia de “luta” contra as drogas, passaríamos a comemorar – diariamente – mais um dia pela valorização da vida! Dessa forma, também, evitaríamos ainda mais hipocrisias e desviaríamos nossa atenção para o que realmente importa no sentido de despertar um desenvolvimento sadio dos nossos jovens, cuja intelectualidade está cada vez mais em evidência e acurada em relação a muito daquilo que possa oferecer-lhes risco imediato à sua saúde física e mental.

(*) Agente social

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