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Rigor e gozo

Vivi os anos setenta e oitenta sem maiores preocupações com o panorama que o mundo então apresentava...

Gustavo Hoffay
Publicado em 11/06/2018 às 07:39Atualizado em 17/12/2022 às 10:29
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Vivi os anos setenta e oitenta sem maiores preocupações com o panorama que o mundo então apresentava. De lá, trago convenientes lembranças do regime governamental que reergueu o Brasil desde um profundo pesadelo político-ideológico. As músicas cantadas por Roberto Carlos e Renato e Seus Blue Caps, garantiam um clima de romantismo. As performances de Paulo Autran nos teatros, eram primorosas e, na televisão, despontavam Regina Duarte e Francisco Cuoco.

Sob o regime militar vigente, tiveram origem, e foram finalizadas, algumas das maiores obras de engenharia em nosso país. Tivemos tropeços, claro! Mas nada que maculasse a imagem de governantes quanto até recentemente. Nos colégios, reinava a disciplina e uma educação coerente com a sadia caraterística da grande maioria das famílias. Mesmo nas grandes capitais, sentava-se nas calçadas durante a noite, e as crianças brincavam alegremente sob a vista de pais despreocupados com o que haveriam de comer ou quanto pagariam pela gasolina no dia seguinte. As patrulhas policiais eram realizadas em Fusquinhas; as férias podiam ser programadas e aproveitadas com facilidade e os pais ensaiavam e cultivavam cautelas, para evitar-se alguns desmandos e desvios dos seus afetos.

Os prazeres originados de uma sadia recreação, implicavam tão somente em distensão, restauração do físico e do psiquismo desgastados no trabalho ou nos estudos. Hoje, é licito afirmar, que o prazer e a ostentação tornaram-se obsessivamente cobrados, perseguidos, e não poucos imberbes começam a encher-se de bens duráveis (ou não) de satisfação passageira e, enquanto julgando-se engrandecidos, mas, infelizmente, não percebendo que (aos poucos) estão ficando cada vez mais imobilizados e asfixiados. Alguém poderia dizer, que a falta de gozo em relação à sensibilidade ou à obtenção de bens, é frustrante e gera neurose... e há quem diga, que a renúncia, a muito daquilo que os jovens julgam ser bom para eles, é difícil e, principalmente, dolorosa; sim, mas praticada com bisturi esterilizado, a ferida logo cicatriza, e sem qualquer inflamação ou supuração. Por outro lado, é considerável o número de jovens que conheço e já descobriu que a sua finalidade não é a satisfação... mas a perfeição!

Se, porém, deixam-se aposentar na satisfação imediata e passageira das drogas, por exemplo, eles nada realizam, tornam-se preguiçosos e tem paralisado o seu tesão de viver. Nos anos setenta e oitenta, também consumia-se drogas. Mas não haviam outras tantas drogas a serem enfrentadas quanto hoje, e que usam terno e gravata, enquanto, indiretamente, induzem moças e rapazes a agirem de maneira inadequada àquilo que o Brasil deles espera. O bom exemplo vem de cima e, se não aplicado, termina por refletir em considerável parte da população, que ainda carece de uma completa formação de caráter.

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