ARTICULISTAS

Educar não é tarefa fácil e pressupõe desagradar aos filhos

Especialistas da psicologia, psicopedagogia e da psicanálise acreditam que atualmente...

Stella Taciana Ribeiro de Paiva
Publicado em 06/02/2016 às 19:09Atualizado em 16/12/2022 às 18:56
Compartilhar

Especialistas da psicologia, psicopedagogia e da psicanálise acreditam que atualmente os filhos estão sendo educados sob os cuidados da superproteção. O que os pais não sabem é que o excesso de zelo atrapalha no desenvolvimento da prole.

Essa superproteção dificulta o processo de maturidade dos filhos, tal como o processo de resiliência, que é a capacidade de lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas. A resiliência de um indivíduo depende de adaptações social, familiar, cultural, dentre outras.

Ser bons pais pressupõe ser pais chatos e mandões.

Os filhos precisam construir a maturidade, não pensando que “se tenho problemas, meus pais resolvem.” Muitas empresas reclamam da falta de compromisso de seus funcionários mais jovens, uma geração que já foi criada assim, sem vigor. Se o chefe chama a atenção ou aplica alguma advertência, o funcionário já quer sair do emprego. Os pais, resolvendo tudo, não colaboram para que o filho construa a resiliência, que é a capacidade de resistir a essas adversidades, de cair e levantar, de tropeçar, machucar o joelho e sarar com Merthiolate, fazer o curativo e seguir em frente. Tombos acontecerão durante toda a trajetória de vida de qualquer ser humano.

Se a criança ficar de castigo na escola, ou cair no parquinho e chegar em casa machucada, já é motivo para que os pais reclamem. As crianças e os adolescentes têm que se adaptarem ao mundo e não o mundo que tem que se adaptar a eles. Esses pequenos incidentes fazem parte da adaptação ao mundo.

Os pais buscam a felicidade plena dos filhos. Ninguém é capaz de dar a felicidade para alguém. Porém os pais são capazes de preparar o filho para que ele consiga buscar a própria felicidade, identificar situações que possam lhe dar momentos de felicidade. Educar pressupõe sempre desagradar ao filho. Aí, os pais acham que o filho está infeliz, não desagrada e não educa, os cobrindo de presentes e passeios desnecessários. Assim, os pais que não desagradam aos filhos por medo das frustrações e rejeições não sabem que estão os tornando vulneráveis ao mundo.

Os filhos precisam crescer aprendendo os limites impostos pelos pais, tais como regras e não viverem soltos em demasia ou superprotegidos em demasia. Não pode isso, não pode aquilo, não pode aquele outro. E como é realidade a vida dar os limites, aí, eles não reconhecem esses limites, que na maioria das vezes, não são impostos com o mesmo amor.

É natural os filhos sofrerem frustrações e chorar. Claro que os pais não querem isso, mas é necessário para o aprendizado e crescimento da maturidade. O sucesso dos filhos a qualquer custo, o que tem custado uma formação deficitária, não compensa. Os genitores estão focados que o filho tem de ter um bom emprego, ganhar bem e ter conforto, mas, se ele não for uma pessoa de bem, vale a pena? 

O rompimento no amor, na amizade, na vida acontece a todo instante. Bauman, sociólogo polonês, chamou isso de tempos líquidos, tudo é líquido, tudo se dissolve. Filhos acostumados com a superproteção tendem a ter relacionamentos amorosos líquidos, amizades líquidas e empregos líquidos também. Pesquisas confirmam que os filhos bem-sucedidos são filhos de pais rígidos, ou seja, menos insistentes. Uma boa educação de pais chatos e mandões. Isso sim, vale a pena!

(*) Membro da Diretoria do IBDFAM Núcleo Uberaba, advogada

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por