ARTICULISTAS

Assimetrias de gênero

Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 09/02/2021 às 19:34Atualizado em 19/12/2022 às 04:54
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Tema rico e confuso, em pauta atual, pela capacidade de despertar paixões vigorosas e acalorados debates, que acabam por confundir sem esclarecer a polêmica equivocada que gerou. A partir do masculino e feminino, diferenciador dicotômico biológico presente nas nossas vidas, precisou-se acrescentar valores (certo, errado, melhor, pior) de distinção, que acabaram se tornando responsáveis pela desigualdade entre uns e outros. Assim, outro conceito se impôs, ao tentar elucidar a questão da desigualdade social dos sexos, que seria uma apropriação cultural da diferença anatômica sexual entre homem e mulher, nas vidas de todos. Então, a partir de agora, focaremos a desigualdade sexual e suas consequências sociais para o individuo e a sociedade.

Todos percebemos e não faltam exemplos demonstrativos de que a hierarquia de gênero, em diferentes contextos sociais, é em favor do masculino. A ideia de “inferioridade feminina” foi e é socialmente construída pelos próprios homens e mulheres ao longo da história, a ponto de agora, com a assunção política da mulher, ouvirmos exclamações: puxa, a mulher está em todas! Mas, afinal somos nós, homens e mulheres pertencentes a distintas sociedades e diversos tempos históricos e a contextos culturais, que estabelecemos modos específicos de classificação e de convivência social que geram desigualdades.

“Não se nasce mulher, torna-se mulher”. Desde essa famosa frase de Simone de Beauvoir que foi descartada qualquer determinação natural da conduta feminina, dando origem ao conceito de gênero e ao diálogo entre diversas disciplinas, capazes de abarcar e eliminar essa persistente desigualdade. A mulher foi sempre sentida como o Outro, depositária de poderes que, normalmente, não se lhes atribuiria. Noutras palavras, as mulheres são as iguais do homem e suas inimigas. Faz parte do currículo do jovem guerreiro, ansioso por ser posto à prova em seu valor, empreender uma expedição contra elas. Da mesma forma, nos mitos literários germânicos, as Valquirias – mulheres viris (Brunilda), são  capazes de realizar todos os gestos que executam o herói, capazes, inclusive, de ridicularizá-lo. Também encontramos textos, que no seu desejo de se igualar ao homem, a mulher fracassa e se reencontra em conformidade com a natureza que lhe é própria. Diante das lágrimas trágicas, até então consideradas como as armas mais poderosas das mulheres, um feminismo agressivo e afeto ao estardalhaço e especialmente ativo, pretende estabelecer uma igualdade total entre os sexos, não fazer mais nenhuma espécie de distinção entre eles, tendência para a qual convergem as aquisições recentes de uma biologia que estaria questionando estruturas imemoriais no que concerne à concepção ou maternidade.

Ilcea Borba Marquez - Psicóloga e psicanalista - [email protected]

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