ARTICULISTAS

A cura não pode ser pior do que o problema!

Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 24/06/2020 às 07:17Atualizado em 18/12/2022 às 07:20
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É tempo de avaliar e replanejar as ações necessárias ao combate da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Desde o dia 19/03 o mundo parou para prevenir a contaminação endêmica, decretando lockdown. Isto significou interrupção das atividades laborais, à exceção das consideradas essenciais, como abastecimento alimentar, sistema delivery, pronto-socorro hospitalar. A cidade parou, o comércio fechou, o lazer acabou. Restou-nos o mundo virtual, com suas limitações e interrupções.

Os boletins informativos liberados pelas Prefeituras e Governos Estaduais retratam as ondas de contaminações, hospitalizações, resultadas de exames laboratoriais e mortes. No entanto, não fazem nenhuma alusão ao índice de vida, aos adoecimentos, às crises afetivas e ações efetivadas ou não contra a própria vida ou a vida dos outros. Também não informam sobre dados econômicos, em especial porcentagens de desempregos, falências e fechamento de empresas. A agressividade está em ALTA. O MUNDO PAROU E O POVO ADOECEU!

Não temos dados estatísticos divulgados sobre as dificuldades emocionais que todos passam a partir das crianças, dos jovens, dos adultos e velhos. Este é o tempo do trauma e luto coletivo, envolve todos nas perdas e na busca de defesas protetoras. Grandes mudanças ocorreram, o mundo virou do avesso para a humanidade em geral. A criança e o jovem que haviam se habituado à rotina diária de escola, aulas, intervalos, estudos, tarefas e relacionamentos sociais estão trancados em casa, sem escola, mas não estão de férias, com muito tempo livre para nada! A sensação constante é de que o precioso tempo que aprenderam a dividir em horas, dias e semanas está perdido! Parece que este ano – 2020 – não existe e não volta.

A vida precisa realmente ser preservada, mas, viver não é apenas manter a saúde, isso significa oportunidade de trabalho, lazer, convivência social e retomada do crescimento. Primeiramente torna-se imperioso diferenciar isolamento de distanciamento social. Este é possível na medida em que, conscientes do perigo de contaminação, cada um aproprie-se da sua vontade inabalável de manter-se e ao outro saudáveis. Em seguida, ele próprio estabeleça uma rotina que inclua trabalho, lazer, convivência social e produtividade sem ameaça à vida. O isolamento adoece e mata, o distanciamento retoma a totalidade do elã humano e defende a vida. Experimentamos agora o trauma e o luto individual e/ou coletivo, complexas e intrincadas relações entre mundo interno e externo, realidade e fantasia, nas configurações de traumatofilias e intrincados processos de luto.

Ilcea Borba Marquez

Psicóloga e psicanalista

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