ARTICULISTAS

Eu não sou criança!

Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 14/05/2020 às 07:27Atualizado em 18/12/2022 às 06:17
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Há tempo sinto-me incomodada com a inferência do Estado no Espaço Privado da Família, desde a Lei da Palmada, as Cartilhas para Escolares de Primeiro Grau com conteúdos questionáveis sobre questões de Gênero, a Proibição do Ensino Religioso e tantas outras. Mas, nada se compara com esta experiência atual de Isolamento Social e consequente interdição ao Direito Fundamental de ir e vir ou de exercer na plenitude seus dons e/ou conhecimentos zelosamente conquistados e aprimorados.

Uma rápida caminhada pelas ruas da cidade é bastante para verificar in loco as mudanças extraordinárias em andamento. Ruas desertas, poucas pessoas e poucos carros, grande maioria de lojas fechadas, e nas parcialmente abertas os clientes não podem entrar. O comércio é feito na porta do estabelecimento, sem autorização para tocar ou experimentar o produto mesmo quando se trata de roupas e acessórios. O contato é expressamente proibido e o uso de máscaras exigido. Interessante lembrar que no Velho-Oeste os bandidos quando não desejavam ser reconhecidos usavam máscaras cobrindo metade da face, só que então eram de lenços, mantidos em outros momentos em torno do pescoço. Nós estamos entre ser bandido ou homem de bem. Como também estão acontecendo prisões aos que vão à praia, estão sem máscaras ou desrespeitando o distanciamento decretado – a diferenciação clara e evidente de bandido e honesto se apaga gradativamente. A preocupação com a lei, com o certo e o errado é constante, como também a angústia do perigo desconhecido que pode estar em qualquer lugar ou pessoa.

Mudanças radicais acontecem num piscar de olhos: a Polícia Militar agora caça e prende aqueles que desrespeitam os decretos emergenciais e aprisionam com todos os instrumentos anteriormente restritos aos bandidos, como Algemas e Camburão. Várias cenas estão disponíveis nas redes sociais: mulheres e adolescentes tirados da praia para o camburão devidamente algemados, senhor agredido por resistir ao aprisionamento depois de começar a lavar carros, médico sendo agredido por ter solicitado o pagamento pelos seus serviços realizados.

Parece-me que a ordem social respaldada na ordem constitucional está sendo totalmente transgredida por aqueles que deveriam defendê-la, as cortes superiores de Justiça estão totalmente desacreditadas, os brasileiros só percebem erros e traições onde deveriam existir a ordem e a valorização humana, as crianças estão submetidas a adultos ameaçados, trancados em suas casas, sem trabalho, angustiados com a possibilidade do desemprego e da falta de recursos para a manutenção da sua própria vida e dos seus. Vocês já pensaram na próxima geração que vive este ano 2020? O que podemos esperar?

Ilcea Borba Marquez

Psicóloga e psicanalista

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