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Vítimas do Palace II

Há 20 anos caiu por terra o sonho de 176 pessoas, junto com os 24 andares e 44 apartamentos

Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 19/11/2019 às 22:29Atualizado em 18/12/2022 às 02:05
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Há 20 anos caiu por terra o sonho de 176 pessoas, junto com os 24 andares e 44 apartamentos do Palace II, na Barra da Tijuca – Rio de Janeiro. Sonho este nascido da compra, na planta, de um prédio de apartamentos para classe média com previsão de cinco anos para a realização da obra e entrega das chaves. A construtora Sersan, de Sérgio Naya, então deputado federal , era a empresa responsável pela planta e execução do mesmo. Talvez o fato da empresa – Sersan – ter como proprietário um deputado federal deu maior credibilidade ao empreendimento, contribuindo para a adesão de 176 famílias, em busca da tão desejada “casa própria”. 

Podemos facilmente imaginar cenas em torno do prédio em construçã um casal que, todos os fins de semana, passava pelo local para ver o progresso dos trabalhos e o festejado crescimento do prédio diante dos seus olhos; os dois filhos de outro casal, já cansados de tanto ouvir aquela história dos pais junto à repetitiva justificativa para restrições de viagens ou comemorações: precisamos fazer economia para pagar as prestações; o casal mais velho e maduro, na expectativa ansiosa: será que viveremos neste apartamento?

Como não podia deixar de ser, a construção atrasou e em 1996 os condôminos foram surpreendidos quando uma interdição feita pela Defesa Civil interrompeu as obras, depois que um operário morreu ao cair no poço do elevador. O alívio foi enorme quando as obras retomaram seu ritmo habitual. A construtora ainda foi processada quatro vezes em virtude da má construção do prédio, que não recebeu o habite-se da prefeitura. Mas um sonho há muito acalentado não se deixa destruir facilmente e os compradores continuaram acreditando e esperando poder entrar e se apossar dos seus imóveis.

Em 1997, alguns moradores acordaram, com o construtor sem terminar as obras internas do seu apartamento, recebendo apenas a estrutura externa, seguidos por todos os outros. Que alegria, a finalização do imóvel, pelas suas próprias mãos. Aquilo aumentava o sentimento de posse. Mas, na madrugada do dia 22 de fevereiro de 1998, eles sentiram tremores no apartamento, como se tivesse acontecendo um leve terremoto... e, às 3h, uma parte do prédio desabou, deixando todos na rua, sem apartamento, pertences, documentos, sem nada! O desespero tomou conta de todos; a tristeza e o choro, também! O consolo vinha dos familiares, ou daqueles que também experimentavam a mesma dor. Essa dor virou revolta, que se transformou em ira e, finalmente, vontade de vingar: o sonho destruído, o dinheiro perdido, a vida de parentes que não saíram a tempo do prédio condenado. Até hoje, depois de 20 anos, as indenizações não foram feitas na sua totalidade, restando então apenas o ódio. E os direitos das vítimas? 

(*) Psicóloga e psicanalista

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