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As irmãs dominicanas e as inserções populares

Era a época do Concílio Vaticano II. Todo mundo vibrava com o novo vento que soprava...

Irmã Cleonice Cardoso
Publicado em 06/03/2016 às 12:04Atualizado em 16/12/2022 às 19:50
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Era a época do Concílio Vaticano II. Todo mundo vibrava com o novo vento que soprava na Igreja Católica. Novo?... Era o mesmo Espírito que soprava desde sempre, mas que encontrou um coração livre, audacioso, aberto à inspiração da Ruah: Papa João XXIII. O seu elã imediatamente encontrou ressonância. Muitos corações ansiavam por este novo que haveria de vir.

Mas não sejamos ingênuos: houve resistência, como há hoje diante das propostas inovadoras do Papa Francisco. O certo é que as congregações religiosas receberam este sopro que lhes aqueceu o coração, as encheu de alegria e esperança. Deixaram-se contagiar com as novas ideias do Papa João, que queria uma “Igreja pobre”, aberta para o mundo, inserida no mundo.

Em 28.11.1958, ele dizia: “Sinto em meu coração os problemas de toda a terra”. E, em 24.5.1963: “Atualmente, mais do que nunca, com certeza mais do que nos séculos passados, estamos dispostos a servir ao homem enquanto tal, e não apenas aos católicos.” E o Cardeal Suenens acrescenta: “A Igreja é uma realidade histórica e encarnada.”

O apelo era ir para o meio dos pobres, viver com eles, como eles, sentir seus anseios, suas dificuldades, fazer do seu sonho o nosso sonho, colocar-se a serviço deles. Onde encontrá-los? Nas periferias. É ali que eles estã os pobres, os marginalizados, os excluídos. E para lá fomos nós.

As Congregações religiosas ouviram este apelo. A nossa, Dominicanas de Nossa Senhora do Rosário de Monteils, sem deixar as instituições que tão bem respondiam ao seu carisma (educação e saúde), decidiu enviar missionárias para as Inserções Populares. E elas se multiplicaram.

A Província N. Sra. do Rosário, no Brasil, inseriu-se em Goiás: Santa Fé, Britânia, Novo Brasil, Itapirapuã; no Maranhã Imperatriz, Pequiá, Açailândia, Cassó; no Mato Gross Mundo Novo (MS) e Guarantã do Norte (MT); no Paraná: Paula Freitas; em São Paulo – capital: Cidade Ademar, Vila Mira, Rua Piratinins; no interior de S. Paul Ribeirão Preto e Itanhaém; em Minas Gerais: Frutal, Araxá, Nova Ponte, Uberlândia, Belo Horizonte, e na cidade de Uberaba: Abadia, Olhos d’Água, Tutunas, Cartafina, Jd. Induberaba. Na América Latina e no Caribe: Haiti, República Dominicana, Peru e Paraguai. Levamos a sério o que disse S. Domingos: “O grão amontoado apodrece; espalhado, frutifica”.

“Quem já viveu no meio do pobre (e se fez um deles) e teve a paciência não só de escutá-lo, mas de segui-lo em seus passos, deve ter descoberto onde reside sua verdadeira força: é na solidariedade! E que fé! Basta chegar bem perto ao coração de nossa gente para saber que Jesus não é um desconhecido e que as Bem-aventuranças são o retrato daquilo que o povo vive”. Faço minhas estas palavras do Cardeal Arns.

Vivendo com o povo, fizemos de sua luta a nossa luta: para aquisição de terrenos urbanos ou rurais, na legalização destas terras, na educação popular, na luta pelos seus direitos, na formação de liderança, na formação de consciência para que se tornem protagonistas de sua história e para perceberem que são cidadãos livres e verdadeiros filhos de Deus.

Muitas dessas inserções desapareceram. É a história que caminha. Nossa Congregação se enriqueceu com elas, aprendemos muito mais do que ensinamos. Vimos de perto o que é a partilha de bens e saber.  Sentimo-nos seguidoras de Jesus Cristo que colocou sua vida a serviço dos pecadores, dos pobres marginalizados e humilhados.

(*) OP - Priora Geral, residindo em Paris – França

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