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A família dominicana e as novas fronteiras

Desde que o Verbo se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,14), a itinerância foi sacralizada...

Frei Helton Barbosa Damiani, OP
Publicado em 17/01/2016 às 11:13Atualizado em 16/12/2022 às 20:28
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Desde que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14), a itinerância foi sacralizada. Deus “desce” do céu e vem ser um conosco. Faz pouco que o Natal nos deu este proêmio. O próprio Jesus é o homem e o mestre itinerante: “vou às aldeias da redondeza, afinal foi para isto que eu vim” (Mc 1, 38).

O ser humano tem sido cada vez mais itinerante. As ditas fronteiras também se tornaram mais cambiantes. Elas foram paulatinamente se modificando, tanto geopoliticamente quanto na compreensão da missão na Igreja, aqui entendendo a Igreja Católica Apostólica Romana. As fronteiras foram se reconfigurando muito mais como “fronteiras existenciais”. Fronteiras de um ser caracterizado por três dimensões antropológicas constitutivas: ser de consciência, ser simbólico e ser de vida digna.

A Ordem dos Pregadores, os dominicanos, teve a percepção desta mudança de fronteiras “nacionais” para “fronteiras existenciais” muito cedo. E onde a família dominicana se faz presente, estar nas novas fronteiras se faz necessário. Obviamente, na região das “Sete Colinas”, estas fronteiras, justamente por serem existenciais, possuem contornos próprios.

Concretamente, hoje, os frades, as irmãs dominicanas e os leigos dominicanos são encontrados sobretudo no interior de instituições e iniciativas que esmeram por uma reflexão que visa a gerar uma sociedade mais justa e solidária, marcada pela promoção da justiça e da paz. Um exemplo é o Colégio Nossa Senhora das Dores, cujos 130 anos têm sido celebrado.

Na dimensão do ser simbólico, a família dominicana participa diretamente da Escola de Teologia para Leigos de Uberaba (ESTELAU), bem como em grupos, movimentos e comunidades eclesiais. O objetivo é ser presença junto a “toda pessoa de boa vontade” que deseja aprofundar sua fé no entendimento e no compromisso com uma sociedade melhor. Esta família está presente também no atendimento diuturno de confissões, aconselhamento e celebrações na tradicional Igreja de São Domingos, no centro da cidade, antigo santuário de Nossa Senhora do Rosário, sob cuidado dos frades dominicanos. Aqui, mais uma vez se trata de apresentar uma fé aberta, que aceita ser interpelada pelos desafios do ser humano hodierno.

E, esforçando para que todos tenham direito a uma vida digna, corpos e mentes se voltam para a periferia da cidade, como no “Projeto dos Meninos”, o apoio às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), a exemplo de Jesus, que muitas vezes pôde ser identificado como um homem à margem da sociedade de sua época. Assim, a família dominicana se esforça para que sejamos uma Igreja sem pompa, com vestes simples, sensível e presente junto aos que sofrem: uma Igreja de comunidade e sobretudo comunitária.

Enfim, as nossas fronteiras hoje não são mais as fronteiras nacionais, mas é onde o ser humano necessita da presença de outro ser humano, como seu irmão, a apoiá-lo a fim de que possa seguir adiante em seu existir com dignidade. 

(*) Mestre de Noviços, vigário da Paróquia São Domingos, em Uberaba

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