O pedestre é um estorvo?

O fato que comento a seguir poderia ser ignorado, mas não posso fazê-lo por questões de consciência. Eram 16h56min. O local: avenida Doutor Fidélis Reis, em Uberaba/MG, quase na esquina com a rua Quintilhano Jardim.

Diante dos meus olhos, uma passagem elevada de pedestres. No lado direito, um senhor na terceira idade esperava para atravessar, contando com a caridade dos motoristas, embora saibamos todos que o pedestre tem prioridade naquele lugar. Observei, pela dificuldade em dar seus passos, que o transeunte aparentava ter as duas pernas mecânicas. Parei meu veículo e, como eu, outros também pararam, mas impaciência de uns se fez presente.

Mal aquele homem iniciou a travessia, já acompanhado por outro cidadão, várias motos e carros começaram a arrancar, contornando as costas daquele ser limitado fisicamente. Outros motoristas e eu ficamos pasmos diante da ausência de civilidade, uma vez que o pedestre é “dono” de sua faixa até o último passo. Senti ali a ausência de agentes de trânsito para que, com suas canetas, fizessem doer nos bolsos daquela turma que se acha superior a quem está a pé em sua frente. Essa infração é gravíssima!

Em Brasília funciona assim: o pedestre, ao colocar o pé na faixa, faz com que os veículos parem e só arranquem depois que a pessoa não estiver mais sobre a última listra. Aqui estão faltando corretivos, que podem ir de simples apitos a lições de trânsito, somadas a pesadas multas, além de pontos na CNH. Segundo consta, a partir do mês de julho/2022, tudo isso vai mudar.

Diz o artigo 29 § 2º do Código de Trânsito Brasileir “...em ordem decrescente, os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres”. Tal prática raramente é vista por aqui. Aliás, o pedestre, em muitos casos, não tem sido mais do que de um estorvo.

Está mais do que passando de hora a fixação de um espaço reservado aos motociclistas entre as faixas de pedestres e os primeiros carros. Brasil afora tem adotado essa técnica, com êxitos. E que todos sejam “educados” para não avançar enquanto o pedestre estiver à frente.

Não quero mais ver esta cena: um homem quase se arrastando sobre a faixa de pedestres e os afoitos passando rente às suas costas.