O frio é um exemplo

Há dias fomos informados sobre um frio poucas vezes sentido que estava por chegar. E parece que chegou. A tecnologia nos dá a previsão do tempo com até 15 dias de antecedência. Eta, progresso!

                            Lembro-me dos meus tempos infantis quando, na fazenda, caía geada à noite, torrando hortaliças, cafezais e até animais morriam entanguidos. Portanto, frio excessivo não é lenda, e sim realidade comprovada. Entendo que aquecimento e desaquecimento globais são coisas antigas. Os que cangavam bois na madrugada que o digam. Quanta penúria!

                           Contou-me o Sr. Agostinho Cardoso, nosso voluntário na Academia de Letras do Triângulo Mineiro, o seguinte: “Meu saudoso pai, Joaquim Cardoso Sobrinho, tinha 12 bois de carr Barqueiro, Estrangeiro (dois da guia), Pavão, Gigante, Romano, Faceiro, Saudoso, Alterado, Figurão, Mineiro, Mimoso e Melindroso (dois do cabeçalho). No Sítio Chapadão, na região dos Fanecos, próximo à Estação da Palestina, levantávamos as 3 da madrugada para cangar os bois. Aos 6 anos de idade, iniciei na arte de candieiro. Com o frio, colocávamos os pés para aquecer no estrume dos bois. Nas costas um saco de linho visando rebater a friagem. Saíamos depois felizes estrada afora, tendo o eixo do carro untado com azeite de mamona para embelezar o seu canto”. Lourival dos Santos escreveu a canção “Candieiro da fazenda”, gravada por Tião Carreiro e Paraíso. Linda obra de arte que remonta aos dias de muitos ex-carreiros.

                           Os que forjaram as bases do Brasil de hoje, sim, podem dizer o que era sentir frio sem previsões climatológicas. Dizia Zote, se alguém reclamasse, tendo vida boa: “Cê tá no céu com os pés de fora sô!”. Para esses o frio é um exemplo...