De quem é o carro?

Quer saber se o piloto de um carro é o seu próprio dono? Basta observar, dentre outros detalhes: ao passar sobre um redutor de velocidade, o apressado antes dá uma freada brusca e passa, ou, muitas vezes nem isso faz.

É que o dono sabe o quanto custa e quem não o é, muitas vezes, passa longe de saber. Daí os avanços de sinal, as ultrapassagens perigosas, o desrespeito aos pedestres, manobras proibidas, excessos de velocidade, sem falar nos desgastes do veículo, que nas mãos do dono ocorrem em grau muito menor.

Saudade do amigo Homero Moreira, que, na juventude, comandava um FNM-Alfa Romeu da frota de Samuel Tótoli, isso nos anos sessenta. Quem via o bruto trucado nas mãos do jovem pensava se tratar de veículo próprio. Não. Ali estava o zeloso empregado que um dia fundou a sua transportadora. Os do meu tempo se lembram da cabine modelo Brasinca, que mais parecia uma vitrine viajante. Apesar da maioria das estradas serem de terra, Homero se dava ao luxo de, depois que lavavam o seu caminhão, ele mesmo encerava e polia a lataria, além do chassi e as rodas. E a pilotagem? Bem, essa era impecável.

Por que comecei falando de carro pequeno e passei para o caminhão? É porque o cuidado com os dois não faz diferença.

Viajando pela rodovia Anhanguera, atrás de um comboio de carretas, ocorreu-me o seguinte: no instante da ultrapassagem, um bitrem sai da sua vaga sem ligar a seta e se joga para a esquerda com seus nove eixos e mais de 50 toneladas em cima. Acionei a buzina e o freio de meu veículo. Fazendo ouvidos moucos, o inconsequente seguiu o seu destino. Concluí: não se faz mais motoristas do nível de Homero Moreira.

O moço do bitrem era o dono? Por certo que não. Se o fosse, aquela imprudência não teria sido perpetrada. Anotei a placa, mas... adianta?