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O leite derramado

João Eurípedes Sabino
Publicado em 25/03/2021 às 06:44Atualizado em 19/12/2022 às 04:24
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Algo sempre me inquietou e eu nunca desisti de saber a causa: por que Uberaba, embora esteja geograficamente bem localizada, perdeu terreno para a concorrência? Teses e mais teses são levantadas, mas a verdadeira merece ser amplamente divulgada.

Muitos advogam a ideia de que Rondon Pacheco foi o nosso principal adversário, imputando-lhe o isolamento de Uberaba ao criar estradas que drenassem o nosso potencial, fluindo-o para Uberlândia. A história não é bem essa, conforme demonstra o livro “Da história de Uberlândia - As estradas pioneiras do Brasil”, do Acadêmico Antônio Pereira da Silva - Cadeira 8 da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.

Fernando Alexandre Vilela de Andrade, radicado em Ituiutaba, no início dos anos 1900, vislumbrou que o Triângulo Mineiro precisava de estradas visando escoar a produção para o sul de Goiás e Mato Grosso. Com o advento da ferrovia em 1895 (decorrente da luta de José Teófilo Carneiro) e a inauguração da Ponte Afonso Pena (ligando o Triângulo a Goiás), Fernando Vilela, homem de mil feitos, viu o futuro. Mesmo com o carro de bois dando as cartas, surgiram aí “As estradas pioneiras do Brasil”.

Tínhamos aqui a promessa de ligação da Ferrovia Centro Oeste a Coxim no então Mato Grosso, mas ficou só no papel. Isso beneficiou a concorrência, embora Uberaba já tivesse na fase de importação do gado zebu. Ih! Fernando Vilela muda-se para Uberlândia em 1912.

“Aí, surgiu um visionário que resolveu construir estradas de rodagem com o objetivo de enriquecer e facilitar o tráfego de mercadorias e pessoas numa pequena zona do Brasil Central. Só que, ao colocar uma das extremidades da sua estrada na Ponte Afonso Pena e outra na cidade de Uberabinha, onde havia uma estação ferroviária da Mogiana, Fernando Vilela interligou não uma pequena zona, mas uma imensa área de produção primária, com o maior centro consumidor dessa produção...”, descreve o Dr. Antônio Pereira da Silva em seu abalizado livro.

É fácil de concluir que a soma dos fatores vontade de enriquecer ₊ consumidores à frente (Goiás e Mato Grosso) ₊ empreendedorismo resultou no que vemos hoje, passados mais de cem anos.

Trabalhar infatigavelmente, portanto, é o que nos resta, e não procurar culpados ou ficar chorando o leite derramado.

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