Deus designa...

Quem não tem um circo dentro de si? Inexiste um ser humano que, em são juízo, ao viver os seus anos iniciais, não tenha ido a um circo e nele sentido como se estivesse noutro mundo. Ele é um universo diferente e por isso o levamos pela vida afora. Sabemos que esse entretenimento transcende a idade média, portanto, não preciso dizer quantos anos tem. Vários circos descrevi nesta página em 22 anos!

O circo me reporta à criança que fui e ainda sou. Abraçado à sua causa, volto ao tempo em que as companhias aqui nos brindavam com espetáculos inesquecíveis. Quantos artistas memoráveis recebemos e, citando os palhaços Arrelia (Waldemar Seyssel) e Piolin (Abelardo Pinto), estarei homenageando os circenses de ontem, de hoje e de amanhã.

No dia 13 de março de 2020, tivemos a estreia do Circo Khronos, armado no interior do Parque de Exposições Fernando Costa. Por determinações “prescritas” pelo coronavírus, a temporada abortou. Com o recinto fechado e a ausência de público, o circo baixou sua lona, entrou em confinamento e só viveu prejuízos. Sem dizer das limitações impostas pela carência alimentar e outras que o(a) leitor(a) pode deduzir. Os palhaços entristeceram e de seus olhos verteram lágrimas... Entidades circenses do mundo estão com seus focos voltados para Uberaba.

Hoje é o dia do circo, amanhã poderá ser o meu, pensei. E mais: “O amanhã está tão longe, quanto tão longe está a data de amanhã”. Mãos amigas se deram para conseguir uma área pública ou privada na cidade visando estacionar o circo. A pública ficou como se não tivéssemos e a particular veio de empresa sediada em Goiânia. Enquanto isso, o gigante com 800 lugares tinha o prazo limite para sair do Parque Fernando Costa, ou seja, até 27/04/2020. Registre-se que a ABCZ foi generosa ao cobrar apenas a metade do aluguel. Na confluência das avenidas Maranhão e Pedro Salomão está hoje o Circo Khronos.

Sem pieguice ou dramas, dormi pouco esses dias. Nos meus entressonos vinha-me aos ouvidos o alarido das dezesseis crianças circenses confinadas. Onde está a solidariedade do uberabense? Eu me perguntava. Pessoas que me pediram reservas de seus nomes, se doaram para não ver aquele símbolo da cultura sair de Uberaba, sem rumo e exposto ao coronavírus.

A esses abnegados dedico a frase: “Quando ajudamos o filho de alguém, Deus designa onde, quando e quem ajudará o nosso filho”.

João Eurípedes Sabino