ARTICULISTAS

A eterna criança

Um menino de dois anos e meio desce uma escada segurando a seu modo o corrimão direito

João Eurípedes Sabino
Publicado em 16/01/2020 às 20:55Atualizado em 18/12/2022 às 03:36
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Um menino de dois anos e meio desce uma escada segurando a seu modo o corrimão direito. Preocupações com quedas à parte, algo de chamar a atenção acontecia a ponto de alvoraçar toda a casa. O pirralho abriu o bué, que quase ensurdeceu quem estava por perto. 

Ao ser socorrido, foi revelada a causa do seu chor ele queria ter descido a escada antes do irmão mais velho. Só isso. Lá embaixo o irmão de cinco anos acariciou o birrento, que parou sua mise-en-scène.

Absurdo o que o pequerrucho fez só porque não desceu a escada primeiro do que o irmão, diriam muitos que têm pouca noção sobre o que é capaz de fazer um pensamento. O inocente foi deveras torturado pelo ente psicológico e incorpóreo, que o fez chorar e esbravejar por um motivo tão banal. “Coisa de criança”, dirão outros incautos, como se esse tipo de atitude não ocorresse também com os adultos. Ocorre sim e muitas vezes em doses muito mais potentes.

O que são os pensamentos? “São entidades autônomas que procriam e adquirem vida ativa na mente humana...” Eis o conceito estabelecido pela Logosofia. Tanto a indefesa criança quanto o “guarnecido” adulto padecem da mesma vulnerabilidade mental. Ou seja: um e outro podem ter atitudes iguais não importando as suas idades.

Quer um exemplo, leitor ou ouvinte? Certo gerente de uma organização empresarial, ao vir para estas bandas, tratou logo de imprimir a marca da sua administração. Transferiu um subordinado que trabalhava numa unidade bem próxima de casa para outra onde teria de atravessar a cidade tomando dois ônibus. Complicou a vida do rapaz e de sua família.

Ao ser questionado sobre o porquê da transferência do abnegado trabalhador, respondeu, incontinenti: “Agi desta forma para mostrar que eu sou o novo gerente. A simples mudança de lugar de uma cadeira deve passar por mim. Só por isso”, afirmou o modesto gerente.

Ali estava presente o mesmo pensamento que levou o menino da escada ao choro compulsivo, só que vestido com outro “uniforme”. Aí está a prova de que podemos até crescer em tamanho físico, mas a eterna criança permanece.

O menino não nasceu sabendo e há que conhecer os limites e regras da vida. Por que espinafrou o ambiente só porque seu irmão mais velho havia descido a escada primeiro? Por que o gerente transferiu o subordinado só para mostrar que mandava? Cabe aí a famosa expressã adulto mal resolvido? 

Os “meninos chorões” e os “gerentes mandões” estão por aí. Eu já tirei as minhas conclusões. E você, leitor(a)?

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