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Certo que não!

Trabalhei durante doze anos numa empresa, à qual dediquei o melhor de mim

João Eurípedes Sabino
Publicado em 02/01/2020 às 21:56Atualizado em 18/12/2022 às 03:14
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Trabalhei durante doze anos numa empresa, à qual dediquei o melhor de mim correspondendo a uma relação mútua de absoluta confiança. Ali dei os meus primeiros passos na atividade que me fora confiada a desempenhar. Comecei no primeiro degrau e consegui me posicionar nos demais patamares, tudo por merecimento. Nunca deixei de mostrar que vesti a camisa da empresa e sempre estive à sua disposição mesmo estando em períodos de férias. Os que militaram comigo são testemunhas do meu comprometimento. 

Aos meus superiores hierárquicos devotei grande admiração e respeito. Por isso fui correspondido e a eles cultivo eterna gratidão. O proprietário da instituição dispensava a mim irrestrita confiança dando-me oportunidades que agarrei sem deixar nenhuma passar irremediavelmente. A ele, a minha imorredoura gratidão.

Certa vez, o meu patrão empreendera uma viagem que duraria quase dez anos. Ao retornar e ver sua empresa com muitas coisas mudadas, porém em franco progresso, demorou um pouco para assimilar os seus avanços e determinou a redução drástica de custos. Isso ocorreria em todos os sentidos. Fui atingido pela contenção de despesas e tive minha carga horária, bem como o salário, substancialmente reduzidos. De tudo que eu ganhava passei a ganhar apenas 1/3. Não me desesperei e parti para ver novos horizontes, sem deixar aquele emprego. Eu precisava dele.

Três anos depois deixei minha vaga a outra pessoa que a abraçou com garra e afinco.

“Você vai entrar na Justiça para reivindicar seus direitos né?”, não faltaram colegas para tentar me convencer. Alguns foram até veementes.

Não! Eu respondi várias vezes e mantive o meu sólido posicionamento.

“Por que você não vai entrar na Justiça? Direito é direito!”, diziam alguns descontentes comigo. Esclareci uma única vez que valeu por todas: - quando eu era um zero à esquerda e ninguém me conhecia, ganhei a primeira oportunidade para exercer um sério trabalho. Depois disso prossegui e estou onde estou. Não sujo o prato que comi. E não entrei na Justiça contra o meu ex-patrão.

Vários colegas ajuizaram ações trabalhistas e um deles me ironizou: “Viu o quanto você perdeu? Só eu recebi o equivalente a 30 mil dólares!”. Mostrou-me ele um comprovante de transferência bancária. Não me entusiasmei com aquele galanteio.

Passados trinta e três anos, continuo merecendo a confiança da empresa. E há dois anos tive provas incontestes de que o meu gesto me fez merecedor para receber um grande favor em nome de uma entidade. 

Se eu tivesse levado o meu ex-patrão às barras da Justiça, teriam os seus sucessores me prestado o grande favor que ficará gravado para sempre na minha história? Certo que não!

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