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Espiritualidade e alegria junina

Junho traz festas de três santos católicos: Antônio, casamenteiro

Wagner Dias Ferreira
Publicado em 25/06/2019 às 21:21Atualizado em 17/12/2022 às 21:58
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Junho traz festas de três santos católicos: Antônio, casamenteiro. São João, profeta precursor de Jesus e São Pedro, único apóstolo que caminhou sobre as águas. Os três momentos deste mês foram incorporados pela cultura popular e convertidos em enormes festas, que, no nordeste brasileiro, modificam completamente a dinâmica de vida das pessoas. Há inclusive a rivalidade do maior São João do Mundo entre Caruaru/PE e Campina Grande/PB.

O artigo 215 da Constituição Federal garante a todos o “pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional”, afirmando que o Estado “apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais”.

Por isso, parece ser um exercício valioso refletir sobre os motivos que levaram o brasileiro a assumir estes três santos para potencializar a sua presença de modo tão marcante na cultura e no folclore de um povo.

Santo Antônio entrou na vida religiosa como agostiniano, após conhecer Francisco tornou-se Franciscano. Era considerado doutor da Igreja e trouxe este aspecto mais intelectual ao movimento iniciado por Francisco. Como sua presença foi determinante para a fé em Portugal, é compreensivo que sua devoção tenha sido fartamente difundida no Brasil, que foi dominado pelos portugueses.

São João Batista sempre foi homem do povo. E, sua célebre frase onde disse que não merecia nem atar as sandálias do Mestre, facilita a identificação do povo sofrido com o santo que batizava no Jordão.

Pedro era impulsivo. Disse que Jesus era o filho do Deus vivo. Caminhou sobre as águas, mas teve medo e começou a afundar. Recusou-se a permitir que Jesus lavasse seus pés e ao mesmo tempo quis que lhe fosse lavado todo o corpo. Negou Jesus três vezes. Teve o sonho comendo carne de animais impuros e ouviu a voz de Deus dizer que não precisava considerar tais animais impuros. Em seguida, foi guiado à casa de um homem que não era de origem judaica e, pelas circunstâncias, precisou batizá-lo. A humanidade de Pedro impressiona. Por isso, todos gostam dele e se identificam.

Aí compreendemos porque o povo brasileiro valorizou tão fortemente estes santos e conferiu a eles lugar tão nobre na cultura nacional. Antônio permite uma ligação com a pureza de Francisco. João, o exercício de humildade autêntica e Pedro é o homem mais humano que esteve ao lado de Jesus, cheio de falhas e medos em oposição às também presentes virtudes e coragem.

Tudo isso diz muito das formas de expressão brasileiras, dos modos de criar, fazer e viver de um povo que tem medos e falhas, coragem e virtudes. Capaz de ter pessoas em seu território que não sabem ler e nem escrever, mas tem um intelectual que recebeu o Prêmio Templeton, chamado de “Nobel da Espiritualidade” ladeado por Dalai Lama e Madre Tereza de Calcutá.

Esse é um povo com uma amplitude cultural, existindo de uma forma tal que proporciona muitos motivos para, em junho, alegrar-se.

(*) Advogado criminalista

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