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Igreja e Estado

Euseli dos Santos
Publicado em 23/04/2022 às 17:58Atualizado em 18/12/2022 às 19:26
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A velha brincadeira da dança das cadeiras ganha versão para adultos no governo atual: a dança dos ministros. Com a saída do ministro da Educação, Milton Ribeiro, depois de mais um escândalo de corrupção, já somam 28 ministros depostos.

Estamos a alguns meses das eleições e mais um episódio vergonhoso manchou – ainda mais – a imagem da Presidência. A última derrapada ficou por conta de Milton Ribeiro, agora ex-ministro da Educação, que foi exonerado do seu cargo no final de março. Tudo começou com gravações que delataram esquema de favorecimento de prefeituras indicadas. Milton, que também é pastor presbiteriano, desviava verba do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação para beneficiar cidades selecionadas por outros dois pastores. Afinal, estamos falando de dinheiro de gestão pública ou de administração de igreja?!

Desde o início do governo federal, surgiu essa confusão de misturar política e religião. Independentemente de qual seja sua religião, caro leitor, posso garantir que vossa excelência está totalmente equivocada. A Constituição deixa bem claro que o Estado é laico, ou seja, o documento-mor determina a separação entre Estado e Igreja. Em nosso país, política e Igreja sempre seguiram rumos separados, sempre foi assim e deveria continuar sendo assim. Mas não é o que está ocorrendo atualmente. Já começa pelo slogan adotado pelo governo federal e inclui indicar representantes da mesma doutrina para assumir cargos públicos.

A imagem de bom cristão começou logo nas eleições e continua durante a gestão. O marketing com viés cristão atinge um público ultraconservador, carente de figuras públicas que o represente ideológica e culturalmente. Posso até parecer cético e muito crítico em relação à gestão atual, mas, depois do último episódio ministerial, não restam dúvidas de que o palanque governamental virou uma espécie de culto religioso, no qual fiéis seguem seu grande líder. Mesmo diante de comportamento e discurso que estão em desacordo com ideais cristãos, o culto messiânico à figura presidencial continua fortalecido e segue assim nas próximas eleições.

O problema é que a confusão está feita! O Estado não é mais laico e uma parcela considerável da população se sente representada. Existe até frente evangélica no Congresso Nacional, sem contar os “amigos” espalhados pelos gabinetes. Como advogado, defensor da Constituição, só tenho a lamentar. Quem perde mais uma vez é a população brasileira, que assiste ao país sendo deixado de lado em nome de Deus. O grande paradoxo é quando o Ser Superior se torna um instrumento de favorecimento próprio e de seus pares. Ainda bem que “Deus é brasileiro”. Assim para continuarmos acreditando que alguém está do nosso lado.

Euseli dos Santos

Advogado em Uberaba/MG – OAB/MG 64.700

Mestre em Direito pela Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp)

Conselheiro Estadual Titular da OAB/MG triênio 2022/2024

 

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