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Deus me livre, Deus me guarde

Julia Castello Goulart
Publicado em 12/10/2019 às 12:05Atualizado em 18/12/2022 às 01:03
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Recentemente, em um curto período de tempo, fiz algumas viagens de avião. Aquele estresse de ficar na fila para fazer check in diminuiu com o surgimento de sites e aplicativos que se pode fazer todo o processo sem sair de casa. Mesmo com toda a tecnologia que foi surgindo para facilitar todos estes processos burocráticos e de segurança antes de embarcar, o aeroporto ainda é o mesmo das minhas lembranças de criança. Sempre achei interessantes os aeroportos. Daria para escrever tranquilamente um livro só com as histórias que você escuta. Seja na fila do raio X, sentado na sala de embarque, ou mesmo no assento ao lado do seu. Pessoas que vão e voltam. Que se encontram e se despedem. Crianças que fazem birra no meio do aeroporto porque não querem esperar ou mesmo adultos que fazem o mesmo porque o voo está atrasado ou foi cancelado.

Mas pela primeira vez nestas minhas últimas viagens percebi algo diferente. Todo mundo se torna religioso antes do avião decolar. O sinal da cruz é quase unanime como ação antes das rodinhas do avião se deslocar do chão. Primeira vez que reparei três pessoas próximas de mim, muito diferentes entre si, que fizeram o sinal. Sinal este que pede proteção. Fiquei pensando se não poderia ser a coincidência de todas elas pertencerem a religiões que praticam o gesto. No segundo e no terceiro voo a mesma coisa. Pessoas próximas, inclusive uma menina jovem como eu, fez o mesmo sinal. Não perdi a oportunidade e perguntei. Você é católica? Ela achou engraçado a pergunta. Por causa do sinal da cruz, expliquei rapidamente. Ela ia dar uma resposta rápida, mas parou. Riu e disse que nunca tinha pensado sobre isso. Ela tanto não era católica, que nem mesmo era religiosa. Achava que era simplesmente um jeito de confortá-la, do medo que ela tinha do avião.

A resposta dela não só a surpreendeu como poderia ser o início para uma boa tese, fica a dica! Em momentos que nós, seres humanos, sentimos que não temos controle, normalmente em situações de perigo, medo, tristeza, precisamos acreditar em algo. Para os totalmente desacreditados de plantão, digo que pelo menos uma vez na vida já deve ter feito algo que tenha relação à religião. O batismo católico, ainda bebê, é uma prova disso. Nem se sabe se aquele pequeno ser vai ser religioso, vai escolher aquela religião, mas a família batiza. Famílias religiosas? Muitas, sim, nosso país tem grande porcentagem de católicos, mas definitivamente não todas. Alguns gestos, palavras, comportamentos são religiosos, e o fazemos mesmo que não acreditemos, por simplesmente nos trazer um conforto ou mesmo já ser algo cultural. Exemplos, como "Deus te cria" ou "amém" depois de espirrar, fazemos sem ao menos pensar no que significa.

Encostada na janela do avião, desta minha última viagem, fiquei olhando o céu azul, cheio de nuvens e pensando em Deus. Eu mesmo que não tenho religião. Acho que Deus se senta em uma nuvem bem grande e fica observando tudo sorrindo, talvez até com ar sarcástico. Humanos, estas criaturas que, segundo algumas religiões, ele criou, tão hipócritas. Mas, como todo Pai, acho que Ele dá de ombros, e pensa que talvez se um dia fosse homem de carne e osso, poderia fazer o mesmo. Afinal, pecados, e olha que existe una lista bem grande deles, são erros humanos.

 

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