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Você não é todo mundo

Estes dias tenho pensado muito em livros de autoajuda. Porque eu gosto?

Julia Castello Goulart
Publicado em 28/08/2019 às 19:09Atualizado em 17/12/2022 às 23:49
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Estes dias tenho pensado muito em livros de autoajuda. Porque eu gosto? Particularmente, longe disso. Simplesmente porque ser ou ter um coach virou moda. Principalmente nas redes sociais. Mesmo tentando fugir, você encontra com propagandas deste tipo. Pode ser que o algoritmo ainda não entendeu que não faço parte deste público-alvo.

Mas o meu incômodo com coach não entra no mérito das críticas dos psicólogos, de que não é uma profissão não regulamentada. Mas, sim, por todas as questões que “autoajuda” implica. Como seria realmente maravilhoso que existisse uma fórmula única para melhorar os problemas das pessoas, que são muito diferentes em gênero e grau, não é mesmo? É isto que muitos livros, palestras e pessoas prometem. Funcionou comigo, e vai funcionar com você!

Se realmente existisse uma única fórmula, poderíamos repensar toda a forma como enxergamos a psicologia, a psiquiatria, a psicanálise. Freud, Lacan, entre muitos outros, não estudaram muito, não foi à toa, não. O ser humano, assim como os problemas que temos, são complexos. Por isto o mesmo que funcionou com uma pessoa pode não funcionar com outra. E mais, o “autoajuda” cria a ideia de que se você não ficou rica em um dia, melhorou seu relacionamento difícil com seus pais, perdeu a timidez em apenas 10 passos, é porque você não se esforçou o suficiente.

Tenho medo quando escuto a frase de efeito que circula por aí: “A felicidade só depende de nós mesmos”. Não é verdade. A felicidade é algo subjetivo e, sim, nem tudo depende só de nós. Vivendo em uma sociedade, a forma como nos relacionamos com os outros também nos afeta. Não só nos decepcionamos quando não conseguimos resolver nossos problemas sozinhos, com fórmulas de “sucesso”, como nos sentimos culpados.

A outra questão é resolver nossos problemas sozinhos. Até porque nos enganamos, mentimos para nós mesmos quando não queremos resolver algo. Nem sempre porque não queremos, como muitas vezes porque não conseguimos. Outra frase de efeito que usamos, mas vou me permitir usá-la, é: a solução começa quando enxergamos o problema e queremos mudar. Então, talvez a gente precise de ajuda para identificar o que nos aflige e como superar. E não há problema nenhum nisso.

Ajuda não de fórmulas mágicas, de frases motivacionais, calendários, metas, mas simplesmente de uma conversa. Às vezes, quando nos abrimos com alguém, não necessariamente um especialista, conseguimos colocar em palavras alguns sentimentos confusos, angústias, e sozinhos podemos, sim, nos entender. Outras vezes, a pessoa de fora, com um único comentário, te ajuda a enxergar o problema com uma percepção totalmente diferente, do lado de fora. 

Ainda quero conhecer alguém que resolva todos os meus problemas, com um guia simples, fácil e barato. Se alguém souber, me avisa? Porque, como já dizia minha mãe: você não é todo mundo.

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