Abraços, encontros, família, aconchego de pai, mãe, avó, avô, filhos, netos, sobrinhos, amigos, festas, escola, estudos, trabalho, visitas, passeios, cafés, shows, cinema, teatro, encontros, contatos... carinho, presença que se curtia antes e agora... não mais, devido à pandemia.
Os fatos acontecidos ultimamente e as ameaças de novos episódios semelhantes estão difíceis de suportar. O antes não foi fácil, o agora está doloroso. E o depois? O futuro? Que consequências devastadoras ainda virão? Os riscos aumentam sem que se possa mensurar a proporção do seu alcance.
Os profissionais da Saúde batalham nesse triste cenário, no atendimento emergencial. Eles também, além de sobrecarregados, perderam familiares e amigos e estão sob cansaço físico e emocional. Doloroso processo em que é necessário atender ainda àqueles que sofreram perdas de entes queridos em ações reparadoras. Vidas humanas são arrebatadas a todo momento!
Como reagir?
Estamos em uma guerra e o inimigo é invisível. É um vírus terrível. A iminência de se contrair a doença é constante, causando uma interrupção de planos e projetos. Extinção de modos de vida, desempregos, bens materiais perdidos, falta de alimentos, escolas fechadas, hospitais lotados...
E surgem as perguntas: Existe um lugar seguro? Onde é este local? A sensação é que há um alarme de fuga, porém, as pessoas não foram treinadas para fugir, ou não há para onde ir.
Grande é o levantamento das perdas?
As imagens de tristezas são leitos hospitalares repletos, cemitérios improvisados, e familiares que, sem despedidas, não voltarão para casa.
O luto existe, mas como mecanismo de sobrevivência, criam-se estratégias para seguir adiante. A elaboração de recursos simbólicos acontecerá no tempo de cada um, de cada família. Nada de imposições?
Os conflitos sociais originados pelas rupturas sociais intensas e os problemas econômicos provocados pela paralisação das atividades de trabalho e dos empreendimentos são muitos.
Os estudantes, o que perderam, o que estão perdendo ainda?
E o voluntariado?
Conflitos emocionais como depressão, violência doméstica, aumento de consumo de álcool e de drogas, ansiedade, insônia, choro fácil, agressividade, entre outros, aumentaram bastante, tornando-se necessária a ampliação da rede de cuidados. Neste contexto, além da dor da perda, a violência imposta aos corpos das vítimas agrava a dor dos familiares e amigos. Danos emocionais, provocados tanto pela exposição à situação quanto pela possível ocorrência de um contágio, acontecem.
O que esperar?
Urge o apoio necessário aos mais atingidos na pandemia, percebendo a comunidade, pensando em organização de novos projetos de vida, reforçando as relações afetivas familiares e comunitárias, as quais dão sentido à vida, confirmando a identidade individual.
Urge atendimento à demanda mental e atenção psicossocial aos afetados.
Urge que cada um saia melhor da pandemia, com um processo elaborado de se reconhecer enquanto pessoa atingida e de participar da luta coletiva que tem a potencialidade de construir saúde, de propiciar sujeitos críticos e emancipados.
Urge vacinas para todos.
E a luz no fundo do túnel?
As luzes, não só a luz, e, neste momento, elas não estão escondidas, estão bem claras para serem usadas sempre, e na medida da possibilidade: o não à aglomeração, a higienização indicada, a máscara e a vacina. Ah! A tecnologia que permite o trabalho e os contatos online também é uma luz.
Sandra de Sousa Batista Abud - Psicóloga Clínica - [email protected]