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A Odontologia e o tempo

Quem poderia imaginar que a vilã da boca - cárie - viesse um dia a ser corresponsabilizada...

Osmar Baroni
Publicado em 25/10/2017 às 21:38Atualizado em 16/12/2022 às 01:59
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Quem poderia imaginar que a vilã da boca - cárie - viesse um dia a ser corresponsabilizada como indutora da criação de uma atividade profissional científica... Seguramente, a “vilã”, desapontada, viu-se obrigada a aceitar uma parceria com as doenças das gengivas (enquanto se perdem dois a três dentes por cárie, perdem-se cinco a sete por periodontopatias). Entretanto, vale reforçar que para ocupar espaço científico, social e cultural, que honradamente desfruta, foram realizadas inimagináveis “práticas terapêuticas”.

“Há milhões de séculos, quando na superfície da Terra viviam apenas gigantescos dinossauros, já estavam lá as enfermidades da boca. Em dentes fossilizados de tais animais foram encontrados sinais da “vilã” mostrando que, já naquela época, tinha estabelecido sua eterna luta contra os dentes”, ensina a querida colega Mary Camardelli, autora do livro “Episódios da História da Odontologia”.

Num salto milenar, tem-se o aparecimento do homem na superfície da mesma e abençoada terra, que os animais não conseguiram exterminar, e o homem – pós-história –, inescrupulosamente, não está longe em conseguir fazê-lo. Estudos de Leopold von Ranke (1795-1886) e achados anatomo-morfológicos fazem crer a origem comum de todos os homens, ainda que existam diferenças entre as diversas raças.

Com a implacável, embora vagarosa evolução, a origem da ciência odontológica entra no roteiro desenvolvimentista que transcorre num entremeado de acontecimentos creditados ao esforço e à abnegação de todos aqueles que se empenharam na elaboração de uma odontologia integral e moderna, cuja origem remonta à Pré-história.

Há quantidade enorme de registros do século XVII a.C., sobre o uso de excremento de morcegos colocado no “buraco” do dente doente - certamente pulpite aguda - a fim de aliviar a intensa dor. Já para as gengivas, recomendava-se bochecho com urina animal, entre outros “medicamentos”.

Hoje, a data é deveras representativa para os Cirurgiões-Dentistas brasileiros. Em 25 de outubro de 1884, foi assinado o Decreto Imperial número 9311, instituindo os dois primeiros cursos de Odontologia – um anexo à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, outro na da Bahia. A iniciativa foi proposta do médico cearense Cândido Figueira Saboia, o Visconde de Saboia (1835-1909).

Enumerar o vertiginoso avanço da Odontologia brasileira é tarefa longa e bela, porém apraz-me sublinhar a mais recente, que, a meu ver, é a mais importante: “Pesquisadores estimularam a regeneração óssea com o uso de hidrogel associado a fator osteoindutor”. Estudos nesse sentido foram descritos em 1965, por Marshal Urist, sendo a matéria-prima BMPs (proteína morfogenética) extraída de ossos de cadáveres susceptível à contaminação e à necessidade de grande quantidade de osso. As pesquisas recentes de novos biomateriais são capazes de colaborar no processo cicatricial e reparativo de ossos lesados e, assim, superar as limitações e, ao mesmo tempo, fornecer um produto que ajude a minimizar a cirurgia invasiva.

Reverenciar Sara Feldman, diretora do laboratório de Biologia Osteoarticular e Engenharia de tecidos das Universidades Nacional de Rosário, Argentina e da Universidade de Valadolid, da Espanha, e o professor doutor João Paulo Mardegan Issa, da USP de Ribeirão Preto, é a forma mais justa encontrada para saudar a Odontologia brasileira.

(*) Cirurgião-dentista; professor emérito da Uniube; titular da Sociedade Brasileira de Dentistas Escritores e do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região

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