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Enem... Ah nem!

Karim Abud Mauad
Publicado em 13/05/2020 às 07:09Atualizado em 18/12/2022 às 06:14
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Nesta semana, começaram as inscrições (11 a 22/05/2020) para os exames do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que estão previstos e mantidos para (1º e 08/11/2020). O assunto anda monopolizando a juventude de estudantes e a comunidade da educação como um todo. O foco – a insensibilidade do MEC e Inep, através da postura do Ministro e do Presidente, respectivamente. Não vamos citar nomes para não personalizar a análise. O bom senso recomenda este adiamento e consequente remarcação da data. Motivo – a suspensão das aulas neste ano letivo, devido à pandemia causada pela Covid-19. O mundo está reavaliando esta situação e praticamente todas as nações que têm exames similares para acesso à Universidade assim o fizeram. O Brasil insiste em não agir neste sentido. As publicidades na mídia, as ações e a própria abertura das inscrições demonstram a vontade dos responsáveis em não retroceder, alegando que o acesso digital é igualitário para todos. Se tem uma coisa clara nesta pandemia é que a tempestade é a mesma para todos, mas o meio de fazer a travessia não. Não somos um país com as mesmas condições de ensino para a população.

Estamos vivendo um tempo novo, onde as desigualdades anteriores se acentuam e mesmo que assim não fossem, a grande maioria das Escolas Privadas e Públicas não estava preparada para o Ensino a Distância. As públicas, em muitos lugares, o ano letivo não tinha começado e a quase totalidade das privadas está se adequando agora. Lembrando, conteúdo remoto não necessariamente significa ensino a distância. O pano de fundo da questão não é só a competitividade por vagas, e a famosa lei da vantagem que muitos poderiam antever nesta situação, mas o verdadeiro descaso com a qualidade da educação e seus conteúdos. 2020 já foi neste quesito, mesmo que esteja liberado o cumprimento dos 200 dias letivos e preservadas as 800 horas para conteúdo, mesmo que se use o tempo remoto para carga horária, o fundamental na Educação já foi perdido, interação, convívio e conteúdo já estão prejudicados. O que inquieta pais, responsáveis e Educadores é como achar um meio de minimizar esta perda. A manutenção da data da prova do Enem 2020 só demonstra este desinteresse. A qualidade não importa, vamos apressar esta geração e deixar para as próximas resolverem. Esta fala vem de encontro a uma preocupação do Ministro Paulo Guedes com a Economia. Ele disse que resultados anteriores do Exame Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) demonstram que não estávamos bem, e fica a pergunta, neste formato ficaremos?

Eu respondo que não. Você, nosso leitor, faça sua avaliação. Sempre que trocamos governantes, que temos alternância de poder, as esperanças se renovam, é humano querer melhoras, mas o manter em segundo plano Educação e Cultura sinaliza desastres iminentes. Na retomada pós-Covid-19, a Educação é peça chave neste processo. Preparar nossos jovens para este novo tempo, vital; já que perdemos o tempo da Economia 4.0, precisamos não permitir que isto ocorra na 5.0. A manutenção da data da prova é a face visível deste escárnio. As politizações, as ideologias de parte deste universo não podem servir de desculpas para o que está acontecendo no Ministério e no Inep. Nunca dois erros fazem um acerto.

Finalizo, informando que o tema me foi trazido em um dos almoços da quarentena, pela minha filha Anna Carolina (apesar de que não está na idade de prestar a prova). Estava indignada com as posturas do MEC/Inep, me fazendo assistir inúmeros vídeos de jovens pelo país, reclamando da situação, inclusive um manifesto de alunos do terceirão do seu CNSD. Ato contínuo, pesquisamos, ouvimos lives, falamos com pessoas amigas ligadas à Educação em Uberaba, Uberlândia, Belo Horizonte, Brasília, entre outras, e a incredulidade é a mesma. Como cidadão, fico triste, como pai, feliz de perceber esta consciência cidadã dos jovens, minha filha inclusa. É, se o Brasil tiver jeito, será pelos jovens; muita gente ainda não entendeu as lições da pandemia. E eu fiquei sem entender a outrora Namoradinha do Brasil. Enem... ah nem? Amém!

Karim Abud Mauad

 

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