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A verdadeira música sertaneja

Nas minhas andanças, mascateando com meu pai, pelos sertões do Triângulo Mineiro

Valdemar Hial
Publicado em 08/07/2015 às 19:53Atualizado em 16/12/2022 às 23:23
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Nas minhas andanças, mascateando com meu pai, pelos sertões do Triângulo Mineiro e noroeste do Estado de São Paulo, era comum receber encomendas de rádios para ouvir os programas caipiras. Na antiga Santa Rosa, hoje conhecida como Iturama, um fazendeiro encomendou ao meu pai um rádio que tocasse as músicas da dupla Torres e Florêncio. Chegando a Olímpia-SP, minha terra natal, meu pai me entregou um rádio e disse para eu sintonizar o programa daquela dupla. Para não perder a sintonia, o rádio e uma pesada bateria foram transportados no meu colo. Quando chegamos à casa do fazendeiro, já escurecendo, ligamos o rádio para ouvir o programa de Torres e Florêncio. A alegria contagiou o ambiente. Naquele momento senti que meu pai, um grande mascate, lídimo descendente dos fenícios, teria ali um freguês para sempre.

Para aqueles que não conhecem a verdadeira música caipira ou sertaneja raiz, vou me ater a dois personagens que marcaram minha vida, desde a minha infância até os dias atuais; trata-se de Raul Torres e João Pacífico.

Raul Torres nasceu em Botucatu-SP em 1906.

João Pacífico nasceu em Cordeirópolis-SP em 1909 e faleceu em Guararema-SP em 1998. Sem ter um pedaço de chão para morar, viveu seus últimos dias em um sítio de um amigo.

No final da década de 1930 inicia-se a parceria Raul Torres e João Pacífico. Compuseram músicas que marcaram uma época maravilhosa do cancioneiro sertanejo, com Chico Mulato (“Tapera de beira da estrada/que vive assim descoberta/por dentro não tem mais nada/por isso ficou deserta/morava Chico Mulato/ o maió dos cantadô...”), Cabocla Tereza (“ Há tempo fiz um ranchinho/pra minha cabocla morar/era ali nosso ninho/bem longe deste lugar...”), Mourão da Porteira (“... E aqui tão longe/eu pego na viola/ aquele verso começo a cantar/uma saudade é dor que não consola/ quanto mais dói a gente quer lembrar...”), Pingo d´Água (“Eu fiz promessa/ pra que Deus mandasse chuva/pra crescer a minha roça/e vingar a criação...”).

Além do seu vasto repertório de músicas caipiras, Raul Torres, ainda, colocou letra na clássica valsa de Jorge Galati e do grande uberabense Antenógenes Silva - Saudades de Matão (“Neste mundo eu choro a dor/ por uma paixão sem fim/ninguém conhece a razão/porque eu choro no mundo assim...”).

Raul Torres e Florêncio atuaram juntos por quase trinta anos. Foram tão afinados um com o outro que morreram no mesmo ano em 1970.

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