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Tempo

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 16/11/2021 às 19:13Atualizado em 18/12/2022 às 16:54
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Não foi possível sair mais cedo, pois tivemos compromissos até o meio da tarde. “Vamos? 250 quilômetros não são nada!”, falei para minha esposa. Na estrada, um evento inesperad o cabo da desembreia arrebentou, estávamos quase chegando a Jacareí. Ouvimos só o estalo. Rodovia lotada de caminhões, trânsito pesado, parei no acostamento, morrendo de medo de desligar o motor e não conseguir dar partida de novo.

Seria uma boa oportunidade de testar os serviços oferecidos pela empresa responsável pela rodovia, mas, preocupado com nossa segurança, precisava encontrar um lugar adequado para solicitar socorro. Dei sorte, engatei a terceira marcha no susto e voltei para a pista. Lá fomos nós, na faixa da direita, insultados por nove entre dez caminhoneiros indignados com a minha velocidade reduzida, impedidos de recuperarem o tempo perdido.

Paramos no primeiro posto. Não era grande coisa, mas, se tivéssemos de esperar muito tempo, ali tinha banheiros e comida. A primeira desilusão veio com a empresa que administrava a rodovia: a obrigação deles era nos retirar da estrada, para não atrapalhar o trânsito – é claro! –, e isso eu já tinha feito. A segunda veio diante da dificuldade de encontrar assistência mecânica. Na minha ignorância, achei que todos os problemas do mundo seriam resolvidos com uma ligação. Que nada! Decidimos contratar um guincho para nos levar para alguma cidade onde pudéssemos contratar os serviços de uma concessionária autorizada.

Será que a tão aguardada viagem para a praia acabava ali? Perda de tempo! Olhei para minha esposa, ela olhou pra mim e decidimos voltar a São Paulo. Cumpridos os trâmites burocráticos, aguardamos o guincho.

A demora foi pouca, logo ele apontou no posto, dirigido por um jovem falante, que queria saber todos os detalhes da pane mecânica. Foi aí que veio a “cantada”. Combinamos com os donos do guincho que seríamos levados a São Paulo, mas o jovem afoito soltou essa: “meu tio tem uma oficina aqui pertinho, a menos de 30 quilômetros”. Pegou o celular e ligou para o ti “Oi, tio! Tem tal peça aí? Tô chegando!” Eram quase 18 horas. Era pegar ou largar.

A oficina ficava na entrada da cidade, num lugar isolado. Assim que o guincho entrou na oficina, fecharam o portão. “Pronto, estamos lascados!”, resmunguei apreensivo. O tio veio em seguida. Viu nosso desespero, olhou o carro e gritou para um garot “fulano, corre no depósito e traz um cabo pra esse carro!” Deixou-nos no pátio, desolados, olhando o tempo escurecer.

Num instante, o cabo foi trocado. “Quanto te devo?”, perguntei, aliviado, já esperando um valor exorbitante. “O valor do cabo e uma cervejinha para o garoto”, disse o dono da oficina. Foi quando reapareceu o rapaz do guincho e deu a “cantada” definitiva: “Patrão, assina aqui que te levei pra São Paulo, aí aproveito para ficar um tempo com meu filho”. E você, o que faria?

Renato Muniz B. Carvalho

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