Parece que, finalmente, a humanidade conseguiu resolver um problema antigo e séri a solidão. Os responsáveis por tal façanha são os cães e os celulares. Não quero desmerecer gatos, répteis e pássaros, entre outros bichos, muito menos o radinho de pilha, os automóveis e o futebol, mas os cães e os celulares estarão inscritos para sempre na história da humanidade como grandes benfeitores. Basta observar o mundo atual.
Antes da pandemia, fui à praia e fiquei espantado. Encontrei por lá três tipos de gente: os humanos, os cachorros e os celulares, cada um com seu aspecto, seus adornos, seu jeito peculiar. Não saberia dizer quem era maioria; tinha um tanto bom de cada tipo. Diversidade a dar com pau — lembrando que esta é apenas uma expressão antiga, sem intenção agressiva, nada contra o meio ambiente, e muito menos com conotação sexual.
Humanos são engraçados, costumam ser espontâneos na praia, talvez por estarem quase pelados. A ausência de roupas indicadoras de status social e profissional talvez os deixe mais à vontade. Na praia, ninguém é professor(a), médico(a), advogado(a), dentista, padre ou sei lá o quê! Todos são banhistas, e isso faz a diferença. Como se comportam os adultos? Uns correm feito criança, outros têm medo horrível da água fria, tem os que pulam ondinhas, os que fazem castelos na areia como se tivessem oito anos de idade… E tem os que sujam a areia, jogam lixo em todo lugar, fazem xixi no mar, bebem até desmaiar e dormem sob o sol quente.
Cachorros, quando vão à praia, comportam-se de modo semelhante: correm, brincam, nadam, vão atrás de bolinhas e pauzinhos. Geralmente, vão sem vestimenta apropriada, mas juro que já encontrei tipos de maiô ou sunga. Alguns são educadinhos, evitam fazer suas necessidades na areia, mas já observei uns se dirigirem à barraca ao lado e, numa boa, fazerem xixi e até… Chato, né!
Celulares começaram a frequentar as praias há pouco tempo. Eles já vão aos cinemas, aos velórios, às salas de aula, compram pizza, etc. Nas faculdades, substituem os estudantes e assumem o aprendizado. Não entendem nada da matéria, não estão nem aí para as explicações dos professores, mas a vantagem deles é nítida: filmam as aulas, gravam, fotografam o quadro, os slides, fazem trabalhos acadêmicos e, se for preciso, até uma colinha executam. Evolução!
Quando, finalmente, humanos, cachorros e celulares se encontraram, foi o fim da solidão. Agora, andam juntos. Mesmo proibido, cães levam os humanos a todos os lugares, sem restrições! Já os treinaram a fazer as necessidades no toalete. Falta ensinarem a usar as lixeiras corretamente. É até bonito ver os cachorrinhos puxarem os humanos pela coleira! Um luxo! Bom mesmo é ver celulares conduzindo pessoas. Os celulares vão sempre à frente, orientam as fotografias, as selfies, ditam os melhores ângulos, dão notícia de tudo. Uma graça!
