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Centenários

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 11/01/2020 às 17:28Atualizado em 18/12/2022 às 03:29
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No mesmo ano em que Albert Einstein (1879-1955) foi agraciado com o Prêmio Nobel de Física, o escritor francês Anatole France (1844-1924) recebeu o Nobel de Literatura. Albert Einstein foi contemplado devido às suas contribuições para a física teórica, já Anatole France foi laureado pelo conjunto de sua obra. 

Há quem questione a importância de Albert Einstein e da física quântica para a ciência do século XX: ou não entenderam nada ou querem nos confundir. O mundo é assim mesmo, tem ignorância pra todos os gostos.

Anatole France tem vários livros publicados em português: “O crime de Sylvestre Bonnard”, “Os deuses têm sede”, “A sombra do olmo”, entre outros. Quem leu levanta a mão!

Existem mais coincidências entre os dois do que o fato de terem sido laureados com o Nobel em 1921. O escritor francês foi filiado ao Partido Comunista Francês no início dos anos 1920 e teve sua obra inscrita no “Índex” de livros proibidos por criticar a sociedade e a Igreja. O físico alemão escreveu sobre ciência e sobre outros assuntos. Num de seus livros, “Por que o socialismo?”, de 1949, ele confirma sua simpatia pelo socialismo. Há uma tradução portuguesa.

Outra coincidência: ambos estiveram no Brasil. Anatole France veio em 1909. Visitou estradas de ferro e foi bem-recepcionado. Albert Einstein passou por aqui em maio de 1925. Realizou palestras, visitou o Observatório Nacional, o Instituto Oswaldo Cruz, o Museu Nacional, deu entrevistas e gravou depoimentos. Sua passagem provocou animado debate entre os defensores e os críticos de suas teorias.

Mas por que estamos falando de 1921 se o centenário é o de 1920? Será pressa de que o ano passe logo ou será por que os premiados de 1920 não tiveram a mesma relevância?

Vamos focar em 1920 então. Continuando no setor de prêmios, faz cem anos que o norueguês Knut Hamsun (1859-1952) levou o Nobel de Literatura. Ele recebeu o prêmio pela obra “Os frutos da terra”. Além deste, existem vários livros do autor publicados no Brasil: “Fome”, “Vitória”, “Pan”, “Um vagabundo toca em surdina”. Apesar de sua importância literária, pouca gente se lembra dele. Vou arriscar um palpite não literári foi acusado de defender Hitler, a quem chamou de “profeta da verdade”, e de simpatizar-se com o nazismo. Imperdoável! Que eu saiba, nunca esteve no Brasil.

Fora do Nobel, aqui nos trópicos, em 1920, foi publicado “Negrinha”, do Monteiro Lobato; obra essencial, reveladora de uma das faces mais trágicas do racismo no Brasil. Não se pode esquecer que neste mesmo ano nasceram três extraordinários escritores brasileiros: João Cabral de Melo Neto (1920-1999), Clarice Lispector (1920-1977) e Celso Furtado (1920-2004). Se tivermos um mínimo de juízo enquanto nação, todas as instituições culturais e as escolas devem celebrar esses autores, ler seus livros, discutir seu legado. Para nós, sua vida e sua obra valem mais do que um Nobel.

 

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