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A contagem do tempo

O tempo já foi dividido e medido conforme ideias variadas, cada uma mais curiosa e criativa do que a outra

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 20/07/2019 às 09:25Atualizado em 17/12/2022 às 22:41
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O tempo já foi dividido e medido conforme ideias variadas, cada uma mais curiosa e criativa do que a outra. Povos do passado basearam-se nos ritmos diversos da natureza, nos ciclos da Lua, em questões religiosas, nos astros, nas mudanças do clima, em efemérides diversas dentre outras categorias e justificativas. Tempo bom passa logo, já os difíceis demoram a passar e isso afeta as pessoas. Autoridades, reis, líderes tribais, religiosos e outras personalidades públicas, algumas muito mais interessadas no próprio umbigo do que na marcação do tempo, fizeram propostas. É claro que isso mexe com a gente, interfere em coisas como nascimento, casamento e morte. Pensa que é simples?

Aí, vieram os cristãos e o Papa Gregório XIII, que, em 1582, emplacou o calendário Gregoriano. Vamos admitir: é prático, sem firulas e fácil de decorar. Isso não desmerece os calendários dos astecas, dos maias, dos muçulmanos, dos judeus e de outros povos. Suas contagens são ótimas, quem sou eu pra duvidar! O calendário chinês, por exemplo, é formidável! Baseado nos ciclos lunar e solar é chamado de lunissolar. Chique! Eles identificam os ciclos com nomes de bichos. Em 2019, começou o Ano do Porco. Do jeito que as coisas vão, em alguns países deve ser o ano do espírito de porco, mas deixa pra lá!

Muitas sociedades tentaram emplacar uma contagem específica, como foi o caso dos revolucionários franceses que criaram um calendário baseado nas características do clima, da agricultura, do humor... Olha só: Vindimiário, período relativo à colheita da uva; Brumário, período dos nevoeiros; Frimário, por causa das geadas; Nivoso, relativo à neve; Pluvioso, por causa das chuvas... Ah, e Termidor, relativo ao calor. Como foram criativos esses franceses! Devem ter desistido por causa do aquecimento global. 

O Papa Gregório que me perdoe, mas seu calendário ficou inadequado pra mim e fui pesquisar outras formas de organizar meu tempo. Então, decidi criar minha própria folhinha. Tentei marcar meus ritmos intercalando períodos de trabalho e as férias, mas, com o passar dos anos, as férias diminuíram até que desapareceram. Complicou tudo, o ano ficou linear demais pro meu gosto. Desisti. Foi quando resolvi prestar mais atenção ao cotidiano e optar por soluções caseiras. A primeira escolha recaiu sobre minhas botinas. Meu ciclo começaria a cada botina nova. Batizei de “Calendário botinudo”, e funcionava de acordo com a duração das botinas. Com a crise, tive de esticar o uso delas, mesmo com rasgos, buracos na sola e tudo mais. Não deu certo e fui pesquisar outros calendários. Pensei no “Calendário caixinha de fósforo”, mas larguei pra lá. O “Calendário pasta de dente” funcionou bem. Baseado num tubo flexível de 50g, tinha duração de dois meses, bem prático, mas não resolveu. Com tanta coisa desagradável acontecendo, eu precisava de um ano mais rápido, de um calendário mais curto. Alguém tem uma sugestão?

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