Ninguém gosta de errar. É desagradável. Tenta-se evitar o erro ao máximo. Mas é impossível nunca errar. Aliás, “errar é humano” e deuses não somos. Contudo, há aqueles que levam tão a sério a aversão ao erro que passam a crer que nunca erram, como se fossem sobrenaturais. Isto já é um erro. A propósito. Certa feita, alguns amigos estavam no campo, na lida do gado. Um deles era daqueles que nunca aceitam o erro, e dos que repudiam qualquer crítica que possa desvendar de si essa ilusão. O sol estava quente. A certa distância, avistaram um pé de “limão-capeta”, como chamavam por ali. Estava carregado de grandes frutos maduros. De longe, permitia confundir-se com mexerica ponkan. O amigo que se achava infalível exclamou, contente. Vejam, um pé de mexerica! Então, um nativo componente do grupo advertiu: “É, parece mexerica, mas não é. É limão”. De imediato, reagiu o “infalível”. É mexerica. Tenho certeza! Todos, já cientes do seu modo incontestável, se mantiveram retraídos para evitar polêmicas. Ele não se deu por satisfeito. Esporou o cavalo, aproximando-se do vistoso limoeiro, e colheu um fruto. Tirou um tampo com o canivete. Levou à boca e, com cara de quem “chupou limão”, cuspiu longe e gritou: “Mas essa está azeda!”. Que não era mexerica não admitiu. Foi difícil para o grupo conter as risadas. Depois, já dele distantes, as gargalhadas correram soltas. Pois é! Há mesmo os crentes de que não erram nunca. Colocam em si o peso de nunca errar. Misto de inocência e idiotice. Sempre tentar evitar o erro é até razoável, mas nunca errar é impossível. Além disso, do erro, próprio ou alheio, se tira muita lição. Também há os covardes, que nada ousam assumir para não correrem o risco de errar. Criam em si uma falsa redoma, que impede a exposição ao erro, porque não suportariam crítica. Isso também embarga evolução. Benéfico é aprender lidar com as “mexericas capetas” dessa vida, para evoluir diante do nosso inevitável índice de erros.