Tinha apenas oito anos quando sonhou ter uma jabuticabeira no próprio quintal, conforme observou em casas vizinhas. Pediu ajuda para a mãe que viu com bons olhos a inciativa da inocente criança. Ela conseguiu a muda e orientou o plantio, realizado pelo próprio menino. Depois explicou que deveria aguar diariamente até que pegasse de vez. Assim foi feito. Porém, após uma semana, o infante perguntou a ela quanto tempo levaria para colher frutos. Distraidamente ela respondeu que isso aconteceria em torno de oito anos. Calculou como menino que aquilo seria uma vida, afinal era todo o tempo que já havia vivido. Desanimou de vez da empreitada e a pequena jabuticabeira secou. Do episódio ele jamais se esqueceu. Sempre pensava. Se tivesse cuidado da muda há muito estaria desfrutando. Passado longo período foi convidado para uma festa de aniversário para comemoração de oitenta anos de um amigo bem mais velho. Era numa fazenda. Foi muito bem recebido pelo atencioso aniversariante. Este o tomou pelo braço e o conduziu adiante de onde apontou seu novo investimento. Uma plantação de seringueiras. Manifestou-se pela excelência do investimento mas, intimamente, sorriu com sarcasmo ao pensar nos seis a oito anos que as plantas levariam para produzir látex, considerando a idade do amigo. A não ser que estivesse pensando apenas em deixar como herança. Ocorre que esse amigo só veio falecer aos 96 anos, usufruindo por longo tempo de sua plantação. Quando isso se deu, lembrou-se do seu pé de jabuticaba abandonado e que tanto fruto já poderia ter produzido para seu deleite. É que a vida, em sua magia, não marca a hora da morte. O certo é acreditar no viver a qualquer tempo, no presente é fundamental, no futuro, em termos, mas, efetivamente, crer no infinito da eternidade. Nunca deixar de fazer, de lançar boas sementes, para si ou para os que virão, que serão seus frutos, como semente que foi um dia. Isto é essencial para se manter vibrante, em busca da luz divina como as plantas nos ensinam buscando a luz sol. Sábia foi a descomprometida lição do ancião. Afinal, há muita vida dos oito aos oitenta...
