Dizia a mãe ao filho. "Só abra a boca para agradar...". E ensinava a oração do Espírito Santo, para que inspirasse sobre o que falar, como falar, quando calar... De fato, a fala tem vários horizontes. É tão importante esse instrumento e ao mesmo tempo é perigoso. Tanto que a experiência popular sugere ouvir mais que falar. A escuta, em regra, é ato de cautela e de defesa. A fala é ferramenta de construção, mas pode destruir se mal utilizada. A conjugação de escutar e falar permite o prodigioso efeito diplomático pelo diálogo. Através da fala revelam-se ideias e sentimentos. Pode abrir ou fechar portas. Da fala manifesta-se amor ou ódio, críticas, ofensas, consolo. Há fala construtiva e destrutiva. Até a crítica, dizem, pode ser construtiva. Soa como advertência bem intencionada. O tom da fala deve ser dosado, compõe o conjunto da expressão e é relevante para o bom efeito. As juras de amor podem ser ditas em sussurro, o alerta costuma ser pelo grito, há o tom áspero necessário como da bronca educativa. Geralmente a manifestação amena é que consegue maior resultado. O efeito é sensível, pode convencer, seduzir, dissuadir, provocar, desafiar, consolar ou machucar. Pode ser verdadeira ou falsa. A fala é por isso muito perigosa, até porque "palavra que sai não volta". Ouvi uma expressão atribuída a Confúcio. "Basta um segundo para se fazer uma denúncia, mas aquele que a recebe pode levar a vida toda para esquecê-la." O certo é que calar está diretamente ligado ao falar, e é bem conveniente pensar duas vezes calado antes de falar. Enfim, para falar asneira, para proferir manifestação destrutiva, beligerante, ofensiva, improdutiva, melhor calar-se. Calar em si pensamentos e guardá-los no baú de sua intimidade sagrada é um modo de se prestigiar o falar, até para não vulgarizar a fala e lançar conclusões mal-urdidas que geram aparência leviana ou criam mágoas. Todavia, não se pode encher o baú com sentimentos que devem ser expressados, faz mal. Temperar o sim e o não é fundamental. Na dúvida, aguarde um pouco. Mas se for para falar besteira, cale-se.
