Não são poucas vezes que criamos e alimentamos expectativas. Mesmo que inconscientes estão ligadas aos nossos sonhos e ideais. O sonho pode ser o estímulo, o impulso que vem arejar o ser para buscar uma perspectiva de bem viver. Certo que um sonho sonhado a dois, ou compartilhado por muitos, em teia, é mais ardente e evolvente. Mas, convenhamos, nem todos os sonhos são comuns ou realizados. E no mergulho dessas quimeras arrisca-se comodamente sonhar a partir do ato alheio, não pela própria construção. Praticamente é a transferência do íntimo querer para a realização por outrem. A sujeição efetiva a fatores externos afasta os sonhos da ideia de projetos para levá-los apenas ao campo da esperança. É extremamente temerário sonhar apoiando ou apostando na atitude alheia, confiando cegamente, por expectativa. Pode ser que não haja reflexo. O terceiro pode até alimentar a esperança do idealizador por interesse ou má-fé, o que realça mais o efeito na eventual frustração. Ocorre que, quando ao epílogo do ideal sonhado tudo se revela como meras ilusões imprudentes, quase inocentes, a decepção se concretiza. Esta desilusão pode advir de amizades, da própria filiação, da fraternidade, do romance, das finanças, de muitos modos e tem sabor de traição. Não se prevenindo desse risco, ainda que remotamente, acaba abatido pelo golpe traiçoeiro da frustração. A ferida se faz profunda e dolorida revelando-se, ante o desapontamento, como martírio difícil de se curar. Contudo, que se reconheça em última análise, a culpa pelo efeito tão contundente do desvio é do próprio sonhador que agiu como crente delirante, ignorando até a autonomia da vontade alheia. É importante diferenciar o sonho do delírio para não se almejar o impossível. Apoiar os anseios e propósitos deliberadamente em fatores externos ou aleatórios, sem guardar margem para a ruína, sem alguma outra alternativa prevista, é por demais perigoso. E é irrefutável que a decepção corrói e mata. Atente-se.
