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Juiz pode ser qualquer um!

Ricardo Cavalcante Motta
Publicado em 18/09/2020 às 19:40Atualizado em 18/12/2022 às 09:35
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Há uma campanha para enfraquecer a Magistratura e isso passa por desconstituir a figura do juiz. É certo que os maus, os bandidos, os sem caráter, não gostam dos juízes. Infelizmente, hoje são muitos, acrescidos por desatentos que se sucumbem à constante campanha subliminar conduzida pelos interesses sórdidos. Com efeito. Há pouco, numa eficiente operação, houve a apreensão de fortuna na posse do crime organizado. Essa fortuna, que seguramente financia o interesse do crime, promove efetiva campanha contra o Estado, é notadamente inversa ao Judiciário. Isso vem se alastrando até os juízes pessoalmente. Estimulam o desrespeito. Sugerem que os juízes sejam iguais, e são, pois todos são iguais perante a lei. Mas o princípio da igualdade pressupõe que as pessoas colocadas em situação diferente sejam tratadas de forma desigual. Isso é a isonomia. Pobre juiz. Quase sempre é solitário e único na comarca lá no interior. É designado para atender longe de seus laços de origem. Por isso, a princípio, não sabe com quem está lidando. Não pode ter amigos plenamente. Afinal, pode ser que tenha que julgá-los. Aliás, ouve sempre que não tem amigos porque todos são amigos da função e não da pessoa. Faz parte. Mas não querem que se compense por isso. Ressaltam que juízes têm mais dias de férias, mas não que não têm direito a receber horas extras. E inúmeras sentenças são proferidas em casa, até pelas madrugadas. Vive em sentinela. A qualquer hora pode ser acionado. Suas férias podem ser interrompidas. Por isso, não pode viajar sem deixar informado o destino. As ameaças e pressões não são divulgadas na imprensa. O risco pelo enfrentamento de bandidos ou de elites mal intencionadas é constante, extensivo à família. Não pode ter outro emprego, não pode ser sócio de empresa, não pode exercer qualquer outra função ou ofício, nem mesmo fora da comarca, exceto magistério superior vinculado ao direito. Não pode praticar atividade político-partidária. Enfim, não pode nem mesmo sorrir mais alto, ou seja, até para se descontrair é limitado. Afinal tem que estar plenamente isento, e com todo tempo para dedicação exclusiva a uma atividade muito complexa ligada à solução de conflitos. Por isso apanha em silêncio, pois deve evitar confrontos. Há de ser devoto à profissão. Avaliar onde vai, com quem estar... Contudo, estão a destruir a figura do juiz para colocá-lo tão igual a todos, mas exigindo-se o que só dele se exige, por ser inerente ao cargo. Atentem-se. O crime organizado, que tem se infiltrado em tudo, visa também infiltrar-se no Judiciário. Consta que tem financiado estudantes de direito e quer levar o juiz ao desvalor para que os bons pretendentes, vocacionados e bem preparados percam o interesse e a vontade pela missão. Assim encurtam a distância para que "qualquer um" seja juiz, submisso aos seus interesses. E se a sociedade for nessa conversa, em breve, muito breve, estará sendo julgada nas suas mais importantes questões por qualquer um. Afinal, juiz pode ser qualquer um.... como parece que se pretende que seja. Ignorar o processo ou aderir à campanha que denigre importa em assumir e pagar a conta. Pensem nisso.

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