Quando criança pequena, ouviu sua mãe advertir seu pai: "O amor começa pelo Bom Dia!". Talvez pela sua tenra idade, não se importaram em dizer perto do infante. Mas ele gravou consigo a frase solta no íntimo intuito de compreender a causa e decifrá-la. A cada etapa da vida voltava a analisá-la. As vezes pensava ter se esclarecido, outras perdia a lógica que havia atribuído ao conteúdo, por novo horizonte alcançado.
Contudo, quando já maduro, como a mãe ao expressar, veio enfim encontrar uma explicação convincente para a exortação. Já estava casado ao notar que o ápice do verdadeiro amor só se faz e se renova desde o estímulo de um Bom Dia carinhoso, talvez até algo sedutor, já pela aurora. É a semente plantada logo cedo, para florir ao seu tempo certo. Sim, efetivamente, sem estímulo, sem vontade, sem motivação nada se constrói.
Na trama e evolução da vida, a lugar nenhum se chega sem motor, sem inspiração, sem causa, sem impulso. Até a ambição ou a vaidade podem mover, embora esses sentimentos sejam criticados quando em excesso. Mas, convenhamos, provocam até a criação de boas coisas, como descobertas científicas, com efeitos benéficos, mesmo em busca de lucro ou reconhecimento. A falta ou perda do estímulo leva à degradação, à decomposição interior, à vazia velhice, à paralisia, à inércia, à tristeza pelo desânimo; jamais à êxtase, ao prazer, como do próprio amor.
Essa ausência corrói, destrói, adoece, desde o sentir a qualquer outra senda do viver. Tem que se ter motivação, gana, vontade, que geram efeito na realização, na consumação do prazer. Devemos sempre plantar entusiasmo desde o Bom Dia da alvorada do viver, e renová-lo, e cultivá-lo, absorvê-lo, como a lenha que reposta sempre reativa a labareda. Já pela manhã, ao se deparar com seu par querido, ou ao iniciar a labuta construtiva, estimule-se, estimule como num vibrante e afetuoso "Bom Dia", conforme o alvo que esteja em seu foco. No estímulo está a magia.
