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Atenção - Pedofilia

Foi convocada para ir ao fórum para levar sua criança ainda de tenra idade, que seria ouvida por uma psicóloga

Ricardo Cavalcante Motta
Publicado em 27/12/2019 às 18:30Atualizado em 18/12/2022 às 03:08
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Foi convocada para ir ao fórum para levar sua criança ainda de tenra idade, que seria ouvida por uma psicóloga numa investigação sobre ter sido vítima de pedofilia. A criança foi deixada no setor psicossocial da Justiça, aos cuidados de profissionais habilitados. A mãe seguiu para a sala de audiência. Dali assistiria, pela tela do computador,  a entrevista da filha sobre os fatos. Iniciados os procedimentos podia ver as imagens e ouvir a conversa. Com muita habilidade, a psicóloga destacada dialogava com a criança seguindo um protocolo desenvolvido com critério para se obter as respostas sem pressões, sem coações, sem indução. Cuidadosamente ia abordando os pontos visados pelas partes, ante a reservada exposição do juiz. A mãe vidrou seus olhos na tela. Conforme ia ouvindo o relato da inocente e indefesa criança, considerada vulnerável pela lei, ia transformando a fisionomia. A criança esclarecia como aconteciam os abusos sexuais que sofreu por muitas  vezes de um convivente de seu lar. O semblante da mãe ia se transformando conforme prosseguia a narrativa. Ao ouvir sobre os toques físicos lascivos que vitimaram a criança, ela engolia seco, os lábios da aflita mãe tremiam, as lágrimas silenciosas corriam em sua face sentindo ferida sua própria alma. Sentia nojo! E do seu olhar se expunha um sentimento de impotência misturado com o remorso por ter se distraído da guarda mais plena da infante. Emergia uma revolta contra si própria pela tolice de ter confiado demais no sagaz agente. Embora entendesse que o agressor foi dissimulado demais ao ponto de se beneficiar de sua boa fé, não se perdoava pela distração. Também a horrorizava pensar nas marcas traumáticas que os atos poderiam deixar para sempre na inocente criança, em ponto tão delicado e relevante de seu desenvolvimento vital. O juiz silenciosamente observava a tudo para tentar dimensionar o tamanho do estrago, em casos que têm se reiterado de forma assinalada contra meninos e meninas indistintamente. O pior ficava diante da constatação de que esses casos, já com volume de realce, dentre todos são dos poucos que chegam  à tona para investigação e julgamento. - Portanto, o sinal de alerta há de ser aceso. Não que as relações domésticas familiares sejam encaminhadas ao campo da desconfiança doentia e desmedida, ruim ao convívio, mas que toda a atenção seja destinada a esse risco, o da prática da pedofilia. Certo de que o diabo nunca se apresenta como tal. A pedofilia tem infiltrado muito, em alcance muito maior que a sociedade tenha noção, o que inibe a devida prevenção. Atenção, portanto, para não se ter que amargar para sempre a dor do remorso implacável como do coração dessa mãe

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