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Eternizar

Ah se eu pudesse eternizar a maravilhosa sensação de liberdade quando meu pai retirou as rodinhas...

Fernando Hueb de Menezes
Publicado em 09/02/2017 às 19:13Atualizado em 16/12/2022 às 15:15
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Ah se eu pudesse eternizar a maravilhosa sensação de liberdade quando meu pai retirou as rodinhas da bicicleta e eu, sem titubear, me senti o maior dos super-heróis.

Ah se eu pudesse eternizar a inesquecível primeira viagem à praia, a textura da areia pálida, o ruído e o gosto salino do mar exuberante, com sua energia emanada.

Ah se eu pudesse eternizar aquele encontro de família, com todos ali, vivos e alegres, cobertos de carinhos e protegidos pelo afeto.

Ah se eu pudesse eternizar o mais belo sorriso da pessoa amada, emoldurado pelo semblante sereno e olhar terno de amor e carinho.

Ah se eu pudesse eternizar a vida dos meus pais, para que fossem imortais e me acompanhassem em todos os momentos de minha trajetória.

Ah se eu pudesse eternizar meu filho, como inocente criança, apegado aos mais simples gestos de afeição, isolado do deformado mundo que nos cerca.

Ah se eu pudesse eternizar as passagens mais sublimes de minha vida, parar o relógio, congelar o tempo e revivê-las sempre que desejasse.

Reflito que a vida segue, sempre adiante, insensível ao nosso arbítrio. Talvez não seja possível perpetuar materialmente as circunstâncias vividas, mas creio que podemos eternizar na memória e no coração cada encontro, cada gesto, cada sensação e reproduzi-las no decorrer da caminhada.

Concluo citando o escritor português José Saramag “A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse: Não há mais o que ver, saiba que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre”.

(*) Professor e pesquisador da Universidade de Uberaba, chefe de Gabinete da Prefeitura de Uberaba 

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