ARTICULISTAS

A hora da nossa morte

Desde muito pequenas, as crianças de famílias católicas ou não aprendem a rezar a Ave-Maria

Vera Lúcia Dias
Publicado em 18/10/2018 às 21:08Atualizado em 17/12/2022 às 14:38
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Desde muito pequenas, as crianças de famílias católicas ou não aprendem a rezar a Ave-Maria, oração que contém em seu teor duas partes distintas. A primeira louvando Nossa Senhora e a segunda, pedindo à Mãe de Deus que rogue “por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte”. Entendo com isso que as questões centrais da Tanatologia já eram preocupações de quem criou tal oraçã A Vida (agora) e a Morte certeira (em algum lugar do futuro).

Em tempos modernos, além das religiões, são as ciências que investigam sobre este momento tão importante da nossa existência. Assim, a Medicina, a Psicologia, a Bioética e o Direito têm muito a dizer a respeito, mas, mais do que elas, cada um de nós pode tomar decisões para quando for chegada nossa hora.

Como assim? Deve ser a pergunta de muita gente!

Pois eu lhes digo que hoje, se não morrermos de morte acidental ou repentina, podemos deixar por escrito um documento denominado Diretivas Antecipadas de Vontade, no qual registramos nossas vontades em relação aos nossos momentos finais, caso estejamos em situação de doença muito grave, sem possibilidade de cura e de comunicação.

Isso vale para todos? Não. Eu diria que somente para aqueles que viveram sua vida com autonomia, sendo donos de suas decisões e querem isto também para sua morte. Que não têm apego à vida física e compreendem que ela tem o ciclo natural de nascer, desenvolver, reproduzir e morrer. Que querem viver a Boa Morte, hoje chamada de ortotanásia (morte na hora certa). Que não querem se “degenerar” numa UTI, separados dos familiares e recebendo tratamentos inúteis na agonia da distanásia (adiamento da morte), mas também não querem ter sua vida abreviada ou interrompida pela eutanásia, que é considerada crime no Brasil.

Sobre a hora da morte, temos a dizer também que as ciências derrubam alguns mitos como os de que “ninguém foi lá para contar como é o lado de lá...”. Muitos foram, sim, por meio das chamadas EQM (Experiências de Quase Morte), situação em que a pessoa chega a ter morte clínica e, por algum motivo, o quadro se reverte e ela retoma a consciência, relata sensações, lugares, encontros com seres de luz que interpretam de acordo com suas crenças. Os grandes benefícios desta experiência são relatados como sendo a perda do medo de morrer e a modificação da vida e de conceitos diversos.

Há ainda um fenômeno descrito por pacientes, familiares e equipes de saúde sobre as chamadas Visões no Leito de Morte. Nesta vivência os moribundos contam aos familiares, cuidadores e profissionais que viram alguém (parente ou amigo) no quarto os chamando e as pessoas vistas já estavam mortas, com ou sem o conhecimento de quem as viu.

Estas “visões” podem acontecer de diferentes formas, como fatos que são tratados como coincidências, por exemplo, ouvir batidas num horário X que depois se fica sabendo ter sido o horário exato da morte de alguém; sonhos com a pessoa que está morrendo ou premonitórios da própria morte; visão de luz no quarto ou saindo do copo da pessoa que está falecendo, etc. 

Pesquisas inglesas recentes afirmam que viver esta experiência tem efeitos positivos de ajudar a morrer em paz e com serenidade.

Explicações para isso? Os descrentes e reducionistas tentam enquadrar as EQM e as VLM em explicações fisiológicas, neurológicas ou bioquímicas, mas os mais abertos as interpretam como fenômenos transcendentais de ordem da espiritualidade, coincidentes com as decodificações de Allan Kardec, que afirmam ser comum a colaboração de familiares e amigos falecidos na chegada ao mundo espiritual após o desencarne.

Mais ainda teríamos a dizer em relação à Hora da Morte, mas já extrapolei o espaço que me é concedido. Aqueles que quiserem se aprofundar um pouco mais no assunto, ele está incluído de forma mais abrangente na reedição do meu livro “Quando a Morte Nos Visita”, que será lançado juntamente com outro denominado “Os Lutos Nossos de Cada Dia”, em 29 de outubro, às dezenove e trinta horas, no auditório do CDL.

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