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Péricles vai à Brasília

O nosso mundo ocidental tem suas raízes culturais e civilizatórias na Grécia. Graças ao legado

Solange de Melo M. N. Borges
Publicado em 25/01/2018 às 20:13Atualizado em 16/12/2022 às 06:55
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O nosso mundo ocidental tem suas raízes culturais e civilizatórias na Grécia. Graças ao legado da civilização grega temos como regime político a democracia, o “governo do povo” que, segundo os helenos, só poderia ser exercido por cidadãos preparados, educados e conhecedores dos problemas que afligem a sociedade.

No século V a.C., denominado de O Século de Ouro, o governo de Péricles aprimorou a democracia, reconstruiu e embelezou Atenas, construiu muralhas em torno da cidade e permitiu que os homens livres, pobres, participassem das discussões sobre a administração pública. Foi o momento supremo da democracia. Péricles era filho de família tradicional e foi educado nas melhores escolas. Teve uma educação liberal e de qualidade. Era homem de palavras firmes e esteve preocupado com o seu povo. Combateu a corrupção e os corruptos. Dedicou-se a promover o desenvolvimento econômico, social e cultural de Atenas.

No Brasil, a herança cultural e política dos gregos parece ter tido pouco valor prático. A palavra democracia é uma delas, sem, no entanto, se preocupar com os demais itens que compõem o arcabouço intelectual, ético e de responsabilidade social que está contido nesse regime político. Aqui, as escolhas políticas estão ficando cada dia mais difíceis. O processo de desconstrução da ética que foi executado pelos governos dos últimos quinze anos, foi tão violento que reduziu à indiferença a questão das escolhas. Organizações criminosas disfarçadas de partidos políticos afrontam nossa dignidade, nos tira a qualidade de cidadãos. As alianças partidárias são de natureza fraudulenta, mentirosas e dependem dos benefícios do poder para aprovarem qualquer coisa que seja do interesse dos bolsos deles.

A Reforma Política, uma necessidade, uma urgência absoluta, não passou de mera discussão no bojo dos debates mais importantes. O interesse maior era com “a galinha dos ovos de ouro” – a Previdência, por ser fonte de recursos tradicionalmente desviados para as emendas, o Caixa 2, os empréstimos a fundo perdido, etc. A recusa de alguns muitos parlamentares em votarem  as mudanças no Sistema de Seguridade Social, se deve, exclusivamente, a não provocar a ira dos eleitores no pleito de 2018.

Um aspecto demonstrado nos trabalhos da Operação Lava Jato é que políticos e grupos de interesses que atuaram no maior assalto aos cofres públicos de um país, nunca tiveram vontade de governar, apenas tinham fome de poder. É, portanto urgente acabar com esse jogo sujo e, mais ainda, é essencial trocar as cartas, os tabuleiros e os dados, enfim, tudo.

Em vista da inépcia do quadro político atual, o povo precisa se mobilizar, a sociedade civil terá que dar uma resposta aos que a estão desafiando com tamanha falta de respeito e desatenção. Queremos um projeto político para o Brasil, que seja de longo prazo! Não podemos aceitar que o “aluno” vá para a aula sem lápis, livros e cadernos e, por sua vez, o professor vá sem preparar aula, colocando em risco a sociedade como um todo, a partir da sua generosidade de consultar todos os presentes. Assim como Péricles em Atenas, queremos um Péricles em Brasília, urgente!

(*) Economista, pós-graduada pela PUC-MG; professora de Economia e História Econômica

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