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Mudar o sistema

O rapaz estava ali, trocando um amortecedor do meu carro e ao mesmo tempo trocando palavras...

Tharsis Bastos
Publicado em 05/08/2017 às 19:29Atualizado em 16/12/2022 às 11:27
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O rapaz estava ali, trocando um amortecedor do meu carro e ao mesmo tempo trocando palavras comigo. Mecânico inspirado e, como nós outros, revoltado com tudo o que aí está: - Eu voto no Bolsonaro!

Olhou para as mãos encardidas de graxa e emendou: - É pra acabar de vez com essa corja que arrebentou o país!

Ia contrapor o argumento. Passou-me pela cabeça a figura impoluta do “saco roxo”, gritando suas ameaças contra os marajás do Brasil. Um filme antigo...

Baixei os olhos. O ânimo para recontar a história já se esvaiu de mim há muito tempo. Todos os argumentos já deram lugar a uma preguiça mental imensa. E agora, por fim, restou este imenso “deixa pra lá”!

O Brasil não sairá da enrascada que se meteu pelas mãos de nenhum salvador da pátria.

Não há um homem sequer neste país, de boa ou má índole, capaz de enfrentar um sistema que foi sendo engendrado através dos anos, por meio de corrupção, malandragens, compra de voto e outras centenas de tipos de aleijões morais.

Lembrei-me do “causo” que me narrou um amigo, criado na roça: O filho do caipira já havia tentado mil malandragens para vencer na vida. Vendeu cigarro contrabandeado, roubou galinha pra vender na feira, matou aula pra tentar a sorte no baralho... nada dera certo.

Estava almoçando com seu velho pai e se queixava da falta de sorte. Disse que queria se mudar de cidade, porque naquele sítio, onde moravam, jamais conseguiria ser alguém. Foi quando o pai interrompeu o profundo silêncio com que o ouvia e lhe disse só uma frase: - Você não precisa mudar de cidade; você precisa mudar é de tipo!

Assim é com nosso país. Não adiantará nada mudar o governante. Qualquer um entre os tantos pretendentes continuará servil a um sistema decaído, canastrão por essência.

Tenho amigos advogados que se queixam do Poder Judiciário, contando coisas de arrepiar os cabelos. Magistrados que simplesmente não trabalham, outros que se corrompem e outros ainda que tudo fazem para contemplar a si e família com os melhores salários possíveis, às custas do sofrido povão.

Nos outros dois poderes, o Executivo e o Legislativo, nem precisa que amigos nos contem algo. Todos os dias os membros dessas latrinas são manchete no noticiário policial.

Então, em um país onde as tão decantadas “sólidas bases institucionais” nada mais são que um monturo fétido de transações espúrias, servindo exclusivamente aos interesses pessoais, o que se precisa é “mudar de tipo”. O sistema não serve.

Um homem não mudará um sistema. É preciso todo um sistema novo para se mudar o antigo. E infelizmente não vejo nenhum sistema novo no horizonte.

Enquanto isso, melhor é deixar que nossos mecânicos, porteiros, trabalhadores de todos os cantos deste país-continente sonhem com o salvador da pátria.

Sonhar, compreensivelmente como quer nosso atual presidente, não paga imposto. E que o coisa-ruim, o sete-peles, o cabrunco, o canhoto nos dê no futuro um sistema novo, porque só restou ele para nos dar algum jeito.

Deus é finlandês!

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