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Assim, você foi criado

Não somos um mistério... Somos sim, diferentes uns dos outros—mas não somos misteriosos

Manoel Therezo
Publicado em 24/12/2018 às 11:31Atualizado em 17/12/2022 às 16:46
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Não somos um mistério... Somos sim, diferentes uns dos outros—mas não somos misteriosos. Se alguns estranhos comportamentos hoje nos fazem perguntar por que somos assim, que voltemos no tempo e façamos uma visitinha a nossa infância. Ela nos dirá que somos frutos de uma herança genética próxima (nossos pais), mesmo até das mais distantes (nossos avós). Também de como fomos criados no período de nossa formação pessoal. Uma criatura que quando criança passou sozinha, mesmo com o passar dos anos, continuará mantendo aquele resíduo porque essa característica lhe será eterna e dominante. Tem-se considerado que o tempo seja o maior modificador das coisas—mas, por certo, não suficiente para escusas de certos “Escapes da infância”—e, quem sabe, essa escusa, tenha sido criada justamente para justifica-los? A Genética (ciência que estuda os genes), não nos assegura que todos da mesma família, tenham igual tempo de vida, tenham a mesma estatura, a pele igualmente escura, os cabelos crespos e olhos verdes. Não somente a herança genética, responde pelo que somos. O meio ambiente exerce na criatura em formação, características singulares. Aquele que no período de infância escutava os seus familiares aos gritos, pronunciando termos não convenientes, também assim fará aos gritos em sua família, com termos inconvenientes ainda lembrados. “Isso é antigo costume da família”, ouve-se por vezes dizer. Poucas criaturas da geração de agora, são capazes da gentileza de se levantarem donde estiverem sentados e oferecerem o lugar para o mais adulto que estiver de pé. Por quê? Porque foi assim que aprenderam. Mesmo a falta de reverência dos nossos netos, dos nossos sobrinhos e outros parentes quando nos visitando, não nos cumprimentam passando por nós sem aquela gostosa aproximação afetiva, reproduzem os ensinamentos de seus pais. Tudo o de hoje em nós, forma o que seremos no amanhã. Alguns adultos, raramente se reeducam, tentando modificar o comportamento—mas, logo entendem que o seu esforço é inútil porque na realidade, nunca lhes foi ensinado. Vivemos mais de 50 anos em meio de tantas criaturas jovens no curso de Odontologia. Quantas diferentes formações assistimos naquele convívio. Muitos nos encantavam com suas delicadezas recebidas como lições de seus genitores no período de sua infância. Por contrário a isso, quantos outros passavam por nós como se nunca nos tivessem visto. A infância marca muito. Por vezes mais que em outra idade. Eu tinha por certo, uns três anos, mas ainda me lembro da Guiné, uma criatura de pele bem escura, ajudava minha mãe e me embalava para dormir, cantarolando baixinho; “Eu tenho uma casinha, pintadinha de carvão, lá dentro nós fazemos bom docinho de limão. Coricoqué, coricoqué pro menino da Guiné”. Hoje, beirando noventa anos, por vezes me surpreendo cantarolando baixinho; “Eu tenho uma casinha, pintadinha de carvão...” Embora o assunto fuja do exposto, observe como muitos empunham de forma estranha a caneta, o lápis. Se voltarem à infância no quando de suas primeiras letras, aquela forma de empunhar tais objetos persiste, porque não receberam em tempo, corrigenda como lição. Se quiser saber o porquê de algumas de suas coisas, volte no tempo e faça uma visitinha à sua infância. Ela lhe será franca em lhe dizer: “Você é assim, porque assim, você foi criado”. 

(*) Professor “emérito” da Faculdade de Odontologia; ex-vice-diretor-geral das Faculdades Integradas de Uberaba (Fiube)/Portaria 5/76

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