A indicação de Nestor Foster para embaixador do Brasil nos Estados Unidos, se avaliada sob o prisma da conveniência, pouco difere da frustrada escolha de Eduardo Bolsonaro para o mesmo posto. O fato de Foster, a esta altura, já ter sido aceito por Donald Trump não é bastante para credenciá-lo a ocupar a posição de maior relevo da diplomacia brasileira.
Desde que Foster tornou-se “reserva” de Eduardo, caso este não fosse chancelado pelo Senado, alguns fatos envolvendo o seu passado, certamente, voltarão à tona na sabatina a que será submetido na Câmara Alta.
Resta saber qual é o perfil do diplomata escolhido e como estão as relações entre o nosso país e a mais poderosa nação do mundo.
Foster atuou na Casa Civil no governo Collor e foi chefe de gabinete de Gilmar Mendes, quando este era Advogado-Geral da União. Elaborou, a quatro mãos, com Gilmar o “Manual de Redação da Presidência da República”. Segundo o controvertido ministro do STF, trata-se de um colaborador “disciplinado”, o que é suficiente para granjear a confiança do presidente, ainda que as suas ordens contrastem com a história do Itamaraty.
Em agosto passado, quando Olavo de Carvalho recebeu a “Grã Cruz da Ordem do Rio Branco”, apesar das restrições feitas a essa escolha, Nestor Foster o exaltou por haver vencido “a ditadura esquerdista que dominava a vida intelectual brasileira”.
Há poucos dias, o Brasil votou contra uma resolução da ONU que condena o embargo imposto pelos Estados Unidos a Cuba, desde que Fidel Castro assumiu o poder. A partir de então, vínhamos nos posicionando como apoiadores daquele ato, o que deixou de ocorrer no governo atual. O nosso representante na ONU, embaixador Mauro Vieira, alertou Bolsonaro sobre os riscos desta guinada à direita no plano internacional.
Segundo aquele diplomata, era preferível que o Brasil se abstivesse como fizeram três nações insulares (Palau, Ilhas Marshall e Micronésia), ao invés de compor a minoria ao lado de Israel e Estados Unidos, contrariando a expressiva maioria de 187 nações.
Os embargos opostos têm por única finalidade estrangular a economia cubana, impondo-lhe um sacrifício que já importou em US$922,6 bilhões.
Antes desse malsinado voto, o Brasil se associou às estatais chinesas na exploração do petróleo do pré-sal. A recepção que Bolsonaro propiciou aos comunistas Putin e Xi Jinping foi marcada de pompas e louvores recíprocos.
Como o governo Bolsonaro prima pelo conservadorismo e não perde a oportunidade para desfechar farpas contra a esquerda, a sua opção por Nestor Foster veio consolidar essa tendência obscurantista, atendendo a orientação emanada do futurólogo Olavo de Carvalho.
Daí o “acerto” da orientação emitida pelo chanceler Ernesto Araújo, ainda que a nossa representação na ONU ficasse de cócoras, contrapondo-se aos grupos de direitos humanos como a “Anistia Internacional” e a “Human Rights Watch”.
Quem acompanha o rumo para o qual o Itamaraty vem sendo conduzido, desde a investidura de Jair Bolsonaro, não se surpreendeu com mais esta submissão vergonhosa, identificada com os pendores da Casa Branca.
(*) Advogado, conselheiro nato da OAB e diretor do IAB